REFUGIADOS NA EUROPA, ALGUMAS NOTÍCIAS ATUAIS

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Esta imagem comoveu os corações das pessoas- Alan Kurdi
morto numa praia após naufrágio.
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Publicado em 02/09/2016, Atualizado em 02/09/2016
Um ano após a morte do menino Alan Kurdi em uma praia da Turquia, veja como vivem quatro crianças que sobreviveram à viagem de barco até a Grécia
ALAN KURDI
Era manhã no Brasil e tarde na Europa quando, no dia 2 de setembro de 2015, uma imagem trouxe para o centro das atenções do mundo a crise de refugiados que se agravava a cada ano. Com a face virada para a areia, banhada pelas ondas do Mar Egeu em Bodrum, na Turquia, o corpo do menino sírio Alan Kurdi, de 3 anos, vestido com camiseta vermelha e bermuda azul, resumiu o desafio que o mundo ocidental não sabia como enfrentar: um fluxo migratório que levava, diariamente, ao desembarque de milhares de pessoas nas praias do sul europeu.
O corpo de Alan Kurdi em uma praia na Turquia provocou comoção mundial (Foto: AFP)
Desde 2011, quase 300 mil pessoas morreram, e mais de 4,8 milhões foram obrigadas a fugir de suas casas somente na Síria. Entre 2014 e 2015, a demanda por refúgio na União Europeia mais que quadruplicou, quando a rota Turquia-Grécia começou a ganhar adeptos após a Primavera Árabe, que desestabilizou a Líbia e o Egito. Até então, esses eram os principais pontos de saída dos refugiados. No ano passado, mais de um milhão de pessoas cruzaram o Mediterrâneo na condição de fugitivos, e 85% delas optou pelo trajeto do Mar Egeu, assim como a família Kurdi. Quase um terço desses viajantes são menores de idade.

Naquele 2 de setembro, além de Alan, seu irmão Galib, sua mãe Rihan e outros seis sírios morreram na travessia em dois pequenos botes infláveis superlotados, que naufragaram. Seu pai, o barbeiro Abdullah, foi o único a sobreviver. A comoção provocada pela foto fez Alemanha e Suécia abrirem suas portas aos solicitantes de asilo, e outros chefes de governo europeus se unirem e anunciarem um programa de recolocação, com o objetivo de oferecer guarida, nos próximos dois anos, a 120 mil refugiados, principalmente sírios, que chegaram na Itália e na Grécia. Ao mesmo tempo, a Europa começou a subir cercas para estancar o fluxo migratório. A fronteira da Grécia com a Macedônia, principal porta de acesso interno rumo ao norte europeu, fechou completamente no início de março. No dia 20 do mesmo mês, um acordo entre a União Europeia e a Turquia pretendeu reforçar o combate aos coiotes que enviavam os barcos, e ameaçar deportar os refugiados.

Um dos objetivos era evitar mais mortos: em 2015, segundo a Organização Internacional para a Migração (IOM), das 5.595 mortes de migrantes em todo o mundo, 3,673 aconteceram no Mediterrâneo. Mas, ao contrário do previsto, dificultar o trajeto tornou a viagem mais perigosa: desde janeiro, 3,171 pessoas perderam a vida no mesmo local, e da mesma forma que o pequeno Alan. 
Abdullah Kurdi mostra foto da mulher e dos filhos (Foto: Gabriel Chaim/G1)
O jornal alemão "Bild" publicou esta semana uma entrevista com Abdullah Kurdi, que vive na cidade de Erbil, no Iraque, a convite do governo curdo. A casa tem quatro quartos e fica em um bairro vigiado pelos soldados peshmerga. "Agora estou seguro como nunca estive, mas para quê?", pergunta ele ao repórter alemão.

Abdullah esteve quase um mês no hospital por causa de uma septicemia. Pretendia ir para Kobane por ocasião do primeiro ano do desastre que levou sua família. Mas os médicos desaconselharam a viagem. "Depois da morte da minha família, os políticos disseram 'nunca mais!' Todos aparentemente queriam fazer algo por causa da foto que comoveu tanto. Mas o que está acontecendo agora? As mortes continuam e ninguém faz nada."

Kurdi acha certo que as fotos de seu filho tenham rodado o mundo. "Algo assim precisa ser mostrado para que as pessoas saibam o que está acontecendo. Mas a foto não mudou muita coisa. O horror na Síria e as catástrofes das fugas precisam parar", disse ao "Bild". Ele não pensa por enquanto em ter uma nova família. "Só penso em Alan, Galib e Rehab." Quando sua saúde estiver melhor, espera, de alguma forma, ajudar refugiados e alertar as pessoas de que não vale a pena tentar fazer a viagem para a Europa na qual perdeu a mulher e os filhos. "O risco é muito grande."

Além do perigo, chegar com vida do outro lado não colocou fim à busca por refúgio dos cidadãos, em sua maioria sírios, afegãos e iraquianos. Mais de 50 mil deles ficaram presos na Grécia depois que países europeus forçaram a fechada das fronteiras para tentar estancar o fluxo migratório. Cerca de 22 mil deles são crianças que, ao contrário de Alan Kurdi, tiveram a sorte de sobreviver ao Mar Egeu, mas ainda aguardam uma resposta do mundo ocidental. 
Um ano após a morte de Alan, leia a história de quatro delas, que a reportagem do G1conheceu em maio deste ano e acompanhou até agora. 

ISLAM ALTESAN
Percorrer a Grécia em meio à maior crise migratória desde a 2ª Guerra Mundial significa se deparar com refugiados por todos os lados: em restaurantes de Lesbos, nas praças de Atenas, no porto de Piraeus, escondidos na floresta por onde passa a cerca fronteiriça com a Macedônia, à espera de coiotes que conhecem a localização de dezenas de buracos por onde eles seguem atravessando. Desde maio, porém, aglomerações como Eko, onde o pequeno Islam aprendeu a correr, são coibidas pelo governo grego, que tenta afastar a população refugiada da fronteira.


Eko nasceu espontaneamente no início do ano, quando a Macedônia começou a reduzir o número de refugiados autorizados a cruzar a fronteira, até fechá-la por completo. O resultado foi o acúmulo de pessoas na região. No vilarejo de Idomeni, com cerca de 200 habitantes, o número chegou a mais de 14 mil acampados. Postos de gasolina na beira da estrada, onde é possível carregar telefones e pagar quantias módicas para tomar banho, viraram casa para milhares de pessoas – no caso do Eko, são 2 mil, incluindo Islam, de 1 ano e 7 meses, seus irmãos de 7 e 14 anos, e seus pais.

Hussein, o pai, tinha uma mecânica em Damasco quando decidiu que a situação na Síria já estava insustentável para ele e a mulher, Haina, de 33 anos, e os três filhos. Essa é a segunda fuga da família: o casal é palestino e já havia se refugiado antes, na Síria. Agora, com os filhos, eles precisaram se deslocar novamente.

A vida no posto de gasolina está longe de ser ideal: além do pouco espaço, não há escolas próximas para as crianças, o número de banheiros químicos não é suficiente e, para tomar banho, é preciso pagar 2 euros. A família de Hussein se recusou a ir a um campo oficial, onde há três refeições garantidas, mas pouca liberdade, e preferiu se ajeitar em uma barraca forrada com mantas ao lado da grade que separa o estacionamento da autopista. 

As tardes no acampamento Eko eram regadas a chai, o chá doce árabe (Foto: Ana Carolina Moreno/G1)
Entre os dias 24 e 26 de maio, quando a polícia grega promovia a evacuação total de Idomeni, a apreensão pairava sobre o local. Mohammed, o filho do meio, com 7 anos, brincava com os amigos de se recusar a posar para fotos de jornalistas. Youssef, com 14, passava horas "fora de casa". Já Islam acordara com bastante energia para gastar, e a mãe, que dias antes havia quebrado o braço em um acidente, fazia malabarismos para lidar com o caçula e com a dor. Apesar de reconhecer a dificuldade, Haina não deixou de preparar o chai, o chá árabe adocicado que os refugiados nunca deixam faltar, para um amigo de outro lado do campo que apareceu para uma visita.

Cerca de 20 dias depois, o acampamento informal em Eko foi evacuado pelo governo grego, assim como outros em postos próximos. 




As alternativas oferecidas pela Grécia aos refugiados não agradam: para acolher mais de 50 mil pessoas, o governo montou campos em locais, às vezes, distantes de cidades e serviços. A condição da maioria deles recebeu duras críticas da Acnur (a agência da ONU para refugiados). Sem escolha de para onde seriam levados, muitos refugiados se depararam com locais como hangares de antigas fábricas, agora abarrotados de tendas de tecido enfileiradas. Em alguns, faltava água quente. Em outros, energia elétrica.

A alimentação garantida pelo governo consiste em um croissant industrializado no café da manhã, macarrão sem molho no almoço e sanduíche também industrializado no jantar. Carne é produto raro, mas os refugiados evitam, depois de episódios de intoxicação alimentar. "Quando vamos poder sair daqui?", perguntou uma jovem no hangar de Karamanlis, em Sindos, ao lado do marido e dos dois filhos, depois de uma semana lá.

Três meses se passaram e a pergunta continua sem resposta. Nesse período, mais que quadruplicou o número de refugiados que decidiram abandonar os campos e buscar sua própria acomodação. Foi o caso da família de Hussein e Haina, que teve que sair do posto de combustível e hoje vive em uma ocupação em Atenas.

Muitos, porém, acabam tendo que dormir nas ruas. Só em Tessalônica, principal cidade do norte da Grécia, ao menos 500 refugiados vivem assim. Alimentados por voluntários, proibidos de montar barracas e frequentemente levados a campos oficiais, muitos acabam buscando coiotes que, na época do fechamento das fronteiras, cobravam até 1000 euros para transportar refugiados para a Macedônia. 
OLAH AL-KHALID
Aos 7 meses de idade, Olah Al-Khalid ainda não falava, mas seus dedos rechonchudos já agarravam com força tudo o que os bracinhos curtos conseguiam alcançar. Mostrava sorrisos nos braços da mãe, do pai, da tia, da avó e até da repórter que acaba de conhecer. Olah nasceu na Turquia, enquanto a família fugia de Aleppo, uma das cidades mais atingidas pela longa guerra civil na Síria.
Ela é a segunda neta do sapateiro Youssef Al-Khalid e sua esposa Alieh. A família ficou apreensiva em levar a bebê, então com três meses, na viagem ilegal de barco entre Turquia e Grécia, mas chegou com segurança à Europa no início de 2016. Desde então, aguarda a definição de seu pedido de refúgio em Ritsona, um dos primeiros campos oficiais de refugiados, localizado a uma hora de Atenas. 


A sorridente Olah se diverte no colo da avó, Alieh, após o almoço em Ritsona (Foto: Ana Carolina Moreno/G1)
No dia 29 de maio, quando a reportagem visitou o campo, cerca de 700 refugiados ocupavam as tendas. Era um domingo. Mas, na vida da maior parte das pessoas abrigadas ali, todos os dias são iguais: sem o processo de asilo iniciado, os adultos dificilmente conseguem trabalho. O acesso das crianças à escola depende de iniciativas de voluntários. A entrada e saída do campo é livre, mas a cidade mais próxima está a 16 quilômetros de distância – e a corrida de táxi custa 20 euros.

Na entrada, crianças entediadas esperavam algum acontecimento. Fazia calor, e os mosquitos já atrapalhavam a ponto de voluntários pedirem doações de repelentes para distribuir. São eles que tentam melhorar as condições do local. Naquele dia, uma organização vegana chinesa entregava legumes e verduras aos residentes, um grupo liderado por uma americana trabalhava a terra para fazer uma plantação e um engenheiro sueco construía um balanço para as crianças. 


O acampamento de Ritsona fica a 16 km da cidade – e da escola – mais próxima (Foto: Ana Carolina Moreno/G1)
A família de Olah ocupa a tenda de número 131, perto dos cerca de 20 banheiros químicos - segundo os residentes, homens dividem um chuveiro com água fria enquanto mulheres ficam com outros dois, embora um estivesse quebrado.

O corredor em que mora a bebê, sua irmã de cinco anos, os pais, a tia e os avós é o mais colorido da vizinhança. Youssef usou bambus e as cordas que seguram as tendas para cobrir a passagem e garantir espaço à sombra. O "teto" foi decorado com balões coloridos. "É só para o lugar parecer mais bonito, mais agradável", explica o sapateiro. 


Em agosto, o descontentamento dos moradores de Ritsona chegou ao ápice depois que um bebê nascido lá passou a sofrer de graves crises epilépticas. Irritados com o que consideram negligência das ONGs no cuidado à criança, eles impediram a entrada de algumas delas no último dia 22, em uma tentativa de aumentar sua participação nas decisões das atividades oferecidas. 
"Precisamos de mais eletricidade, gás para cozinhar, transporte até Chalkida [a cidade mais próxima], um campo de futebol para as crianças, banheiros perto das tendas dos refugiados deficientes", explicou Hilin Youssef, de 24 anos, uma estudante de filosofia curda. Hilin precisou fugir de Aleppo porque o marido seria obrigado a servir o exército da Síria durante a guerra. Na época, ela estava grávida, mas perdeu o bebê por causa do estresse da fuga. Em Ritsona, ela engravidou novamente. 
Apesar de estar longe da guerra, Hilin explica que a vida de uma grávida em um acampamento precário não é fácil. Ela diz que esperou 15 dias até conseguir remédio para as dores nas costas e câimbras dos colchonetes em que dormia. A solução que arranjou foi um colchão de ar.

O caso de Olah é diferente: a família não tem dinheiro para deixar o campo. No verão, a bebê e sua mãe foram atendidas em projetos como o do Dia Mundial do Aleitamento Materno. Garantem que estão bem de saúde, mas ainda não têm perspectivas de quando poderão passar para a próxima etapa de suas vidas. 
ABDULLAH SABSOUD
Dos quatro filhos de Hala Sabsoud, dois puxaram sua timidez. Portanto, é Abdullah, o do meio, o encarregado da família para fazer amigos. O primogênito, que não quis dar o nome ou mostrar o rosto na reportagem, apenas observa de longe. A caçula Hadel, de nove anos, só deu as caras fora da tenda da família, no imenso acampamento de refugiados de Nea Kavala (norte da Grécia), depois de dez minutos de conversa com um grupo de jornalistas estrangeiros.
O olhar de todos eles é triste, o que não é incomum em locais como este. Mas a tristeza nos olhos de Hala, uma bancária de Damasco, chamou a atenção até de um dos militares gregos responsáveis pela segurança do acampamento. "Sempre que a vejo, ela parece muito triste. Mas meu inglês não é bom, então nunca consegui perguntar", disse o jovem à reportagem na tarde de 26 de maio, a quinta-feira em que Idomeni, a 22 quilômetros dali, foi evacuada. Foi o dia em que os cerca de 52 mil refugiados então presos na Grécia viram morrer o sonho de ver a fronteira reaberta para seguir a viagem. Hoje, eles já são mais de 59 mil. 
Abdullah, Hala, Hadel e Naser, um amigo do adolescente, em frente à tenda em que viveram em Nea Kavala (Foto: Ana Carolina Moreno/G1)
Hala também não fala bem o inglês e estudava alemão com os poucos recursos que tinha. Conversar com ela exigiu uma boa dose de paciência e mímicas até que Abdullah aparecesse. Aos 16 anos e com inglês impecável, o adolescente cumpre voluntariamente a função de tradutor e intérprete de inglês e árabe, carreira que um dia pretende seguir de fato.

É por intermédio do sorridente Abdullah que Hala desabafa sobre a vida de refugiada. "Talvez algumas mulheres de outras partes mais rurais da Síria não sintam muita diferença, mas eu trabalhava em um banco, vivia na cidade. Aqui passo o dia sem nada para fazer, não sei o que vai acontecer comigo e com meus filhos. Estou sozinha", explicou ela. 

A família saiu da Síria em 17 de janeiro deste ano, depois que o marido de Hala foi morto na guerra. Sem dinheiro, a família chegou à Grécia em 26 de fevereiro e seguia a rota mais trilhada (Lesbos-Atenas-Idomeni-Macedônia) até ser interceptada.

"A polícia viu a gente e nos colocou em Nea Kavala", contou Abdullah. Depois do fim do campo de refugiados de Idomeni – que chegou a ser o maior da Europa após a 2ª Guerra Mundial, com cerca de 14 mil pessoas – Nea Kavala é atualmente o local que reúne o maior número de pessoas em busca de asilo na região norte do país. Na última terça, 1.975 pessoas estavam abrigadas no campo. Em maio, o número quase esbarrou na capacidade máxima de 4.200 pessoas.

Ali, onde antigamente funcionou uma pista de aeroporto, a maior parte das famílias já tinha recebido as "tendas novas" estampadas com a logomarca da Acnur em maio. O militar que acompanhou a visita dos jornalistas explicou que um grupo de voluntários trabalha dia e noite para montar estruturas de madeira que sirvam de piso para as tendas, afixadas sobre um gramado ralo e esburacado. Um balanço serve de distração para crianças mais novas, um espaço aberto virou campo de futebol, e uma construção de madeira perto da entrada virou um depósito de doações e atividades. De tarde, centenas de mulheres se alinhavam à espera da distribuição de lenços umedecidos e fraldas. 


Balanços e bolas de futebol são os brinquedos mais frequentes vistos nos acampamentos (Foto: Ana Carolina Moreno/G1)
O ambiente amistoso agrada em comparação a acampamentos mais precários ou com cisão entre refugiados de diferentes nacionalidades. Mas, depois de quase seis meses em Nea Kavala, a família não aguentou esperar mais. Na primeira quinzena de agosto, os cinco deixaram o norte da Grécia e voltaram a Atenas, onde dormem em uma escola abandonada, ocupada por cerca de 450 refugiados. "Divido uma sala de aula com 20 homens e durmo no chão. É muito ruim", respondeu Abdullah. "Mas claro que é melhor [que Nea Kavala]. Estava cansado das tendas. Sempre estamos tentando encontrar uma situação melhor."

Conversas com o adolescente no decorrer dos meses, no entanto, mostram que sua paciência parece perto de se esgotar. Como não fala grego, ele ainda não poderá voltar à escola. "Sinto muita falta da minha escola. Quero ir para um bom país onde eu possa ficar, ter uma vida, aprender a língua e ser um deles. Meu sonho é muito difícil? Estou pedindo demais?", reclamou ele.

"Às vezes penso em me matar porque, desse jeito, eu não estou vivendo", se desespera o jovem. Abdullah diz que deseja encontrar logo um lugar onde possa ficar, mas anuncia que já desistiu da Europa e quer ir para a América do Norte. "Eu amo o Canadá, sei falar inglês, amo o povo canadense, é um país incrível e faz frio." 
NIGA HAKIM
Entrar no Hotel City Plaza, no centro de Atenas, dá ao visitante a sensação de estar no hotel mais comum do mundo, e não em um local cheio de refugiados de guerra. O mármore do chão, das escadarias e do balcão da recepção refrescam o calor do fim da primavera e pessoas entram e saem como hóspedes normais. Três diferenças, porém, indicam que aquele não é um hotel como os outros: uma cartolina pregada do lado de fora com o aviso de que a lotação está esgotada, uma barbearia improvisada no lobby e uma quantidade variável de crianças perambulando sozinhas pelos espaços comuns – o principal sinal de que este é mais um abrigo de quem busca refúgio na Europa.
Niga Hakim, natural de Slemani, no Curdistão iraquiano, é uma delas. Em maio, quando ainda tinha 12 anos, a garota magra e de cabelos compridos arrastava uma sandália branca e gasta pelo lobby enquanto Hani, sua irmã, e San, seu irmão, buscavam algo com o que brincar perto de uma fonte desligada. A entrada de uma pessoa nova no local atraiu os três grandes pares de olhos. 
Visitas costumam ser bem vistas, mas a ocupação do Hotel City Plaza, que faliu durante a crise financeira internacional da qual a Grécia foi uma das principais vítimas, já sofreu ataques de grupos de ultradireita, apesar de as maiores agressões estarem nas redes sociais. Não foi a primeira ocupação de refugiados na Grécia, mas, quando o hotel foi tomado na primeira semana de maio, tornou-se o símbolo de uma nova forma de lidar com a crise: a autogestão. 



A ocupação do Hotel City Plaza tem 'luxos' inexistentes nos campos oficiais, onde pratos e talheres são de plástico (Foto: Ana Carolina Moreno/G1)
Ali, não há ingerência do governo grego ou presença de ONGs. Tudo é decidido pelos moradores. Entre eles há médicos, professores, cozinheiros, engenheiros. Todos se ocupam das funções de acordo com sua formação. As refeições são caseiras e servidas sobre pratos de cerâmica, copos de vidro e talheres de inox, utensílios inexistentes nos acampamentos. Além de providenciar atendimento médico, o grupo da ocupação desenvolveu um calendário de aulas oferecidas por voluntários. Porém, eles defendem o acesso dos refugiados ao sistema de saúde e de educação gregos – o atendimento universal é uma obrigação, segundo eles, prevista nos tratados da União Europeia.

Além de Niga, Hani e San, a família tem outros três membros: Diyara, o segundo filho mais velho, Shaema, a mãe, e Chawsen, o pai, que, segundo a filha mais velha, era segurança de um aeroporto antes de a família fugir do conflito armado envolvendo o Estado Islâmico. 


Niga, San, Diyara, Hani, Shaema e Chawsen fugiram do Curdistão iraquiano (Foto: Ana Carolina Moreno/G1)
Os seis escaparam em janeiro deste ano. Passaram pela Turquia e desembarcaram em território europeu no dia 9 de março. Viveram por três meses no quarto 323 do City Plaza, que Niga convidou a reportagem a conhecer. Na cama de casal dormem os três filhos maiores. A mais nova descansa com os pais em colchões no chão. A visita foi surpresa, mas a cama estava feita, os brinquedos, guardados, havia sucos na geladeira e o banheiro estava impecável. De uma mochila rosa, a garota resgatou uma coleção de cadernos preenchidos com avidez. Havia desenhos de sua cidade natal, tabelas de palavras do grego e páginas com frases do inglês.

Assim como os mais de 50 mil refugiados presos na Grécia após o fechamento das fronteiras internas da Europa, Niga tem, atualmente, uma tarefa: esperar por sua vez no atolado sistema de asilo grego. Em julho, a família conseguiu, por meio de uma ONG, se mudar para um apartamento de três quartos – eles ocupam dois deles; no terceiro vive uma família de quatro pessoas. Em agosto, Niga comemorou o 13º aniversário. Em setembro, ela vai começar a estudar regularmente de novo, em uma escola pública grega. Já o seu plano de um dia se tornar médica ainda não tem prazo para se concretizar. 
FUTURO
Ogoverno da Grécia e a Acnur afirmam que praticamente todos os refugiados que estão atualmente no país já passaram pelo sistema de “pré-registro” entre junho e julho, e começarão a ser chamados a partir de setembro para as entrevistas do procedimento legal de solicitação de asilo, que devem levar meses.
Enquanto aguardam, as famílias que conseguem um apartamento tentam levar uma vida normal, mas eles respondem por uma pequena parte do total de refugiados. Quem mora em ocupações, em acampamentos ou na rua tem pressa, mas não vislumbra uma data para o fim dessa vida no limbo. Encontrar trabalho em um país que ainda não se recuperou da crise financeira internacional é raro, e achar uma escola preparada para receber matrículas de refugiados, também. Para as crianças que estão fora da escola, a perda de anos letivos é irrecuperável, e há quem fale em geração perdida.




De acordo com um comunicado do Ministério da Educação da Grécia emitido em julho, 800 professores foram contratados para reforçar as equipes de docentes em escolas, e oferecer às crianças refugiadas aulas de inglês, grego e, em alguns casos, matemática. O governo não informou quantas crianças estão matriculadas para o novo ano letivo, que começa no dia 12, mas estima que 22 mil crianças estão na Grécia em busca de asilo. 
No porto de Piraeus, em Atenas, atividades escolares dependiam dos voluntários; entre maio e agosto, todos os quase 5 mil refugiados que chegaram a acampar no local foram obrigados a sair .
FONTE:Ana Carolina Moreno 
CONCLUINDO

IRMÃOS EM CRISTO, VAMOS CONTINUAR ORANDO QUE DEUS VAI CONTINUAR MUDANDO A SITUAÇÃO DAS ZONAS DE GUERRA E TAMBÉM DAQUELES QUE SE LANÇARAM EM FUGA, TORNANDO-SE IMIGRANTES ILEGAIS ONDE CHEGAM.
QUE DEUS POSSA FALAR MAIS E MELHOR NO CORAÇÃO DE CADA UM.
PAZ DE CRISTO.

MISSIONÁRIO VIRTUAL GERALDO DE DEUS                     2016SETEMBRO, 02

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