OS REIS MAGOS




MATEUS 2 : 1 E, tendo nascido Jesus em Belém de Judeia, no tempo do rei Herodes, eis que uns magos vieram do oriente a Jerusalém,
2 : 9E, tendo eles ouvido o rei, partiram; e eis que a estrela, que tinham visto no oriente, ia adiante deles, até que, chegando, se deteve sobre o lugar onde estava o menino.
2 : 10, vendo eles a estrela, regozijaram-se muito com grande alegria. 


Amigos do blog,

Em Mateus 2:1 e versos seguintes temos a narrativa da visita de magos que vieram do longínquo oriente para visitar o menino Jesus, Yeshua, ainda em Belém onde nascera algum tempo antes.
Entretanto nada se sabe de detalhes sobre tais visitantes, pois em nenhuma das escrituras há citação deles, exceto neste livro do Novo Testamento.
Nada se sabe a mais do assunto, fica então o mistério no ar.

Então, foi tecido todo um emaranhado de fatos fictícios criando um romance com cunho cristão, mas recheado de magia e ocultismo, digno das melhores novelas de mistério e aventura.

REIS QUE REVERENCIAM 
Este conto começa assim, uma comitiva de camelos negros chega a Belém e avançam pelas ruelas e becos até uma casinha singela sobre a qual a luz esbranquiçada da estrela guia estacionou.
Baltazar avança à frente do séquito, montado em seu garboso camelo negro com rédeas trançadas de crina de cavalo e fios de ouro, enquanto o capitão de seus guerreiros desmonta, avança até a porta da frente da pequena moradia e bate na porta depois de ouvir a confirmação de seu chefe dizendo: “É ali!”.

REIS QUE REVERENCIAM   COPILADO DO ORIGINAL DO AUTOR

III-          PRÓLOGO




__ É ali! – disse taxativo Baltazar, apontando o dedo indicador da mão esquerda, enquanto com a direita segurava elegantemente as rédeas trançadas com pelo de crina de cavalo e fios de ouro.
Seu camelo negro  destacava-se dentre os demais da caravana, por ser mais alto, esguio e garboso, mais ricamente ornado com muito ouro, prata e gemas multicoloridas.
Era início do anoitecer e a estrela-guia brilhava, como uma grande bola de luz alva, luz esta que se refletia sobre um casebre simples e humilde, envolvendo-o, e  destacando-o das trevas que se instalavam.
Localizava-se no fim de um beco comum, igual a tantos outros, naquele pequeno povoado chamado Belém, ou Bayt Lehem, que curiosamente, significava “casa do pão”. 
A moradia fechada estava silenciosa, mas a fumaça que pairava sobre seu teto, indicava estar habitada, e que lá dentro havia vida.
__ Afinal encontramos o pequeno grande rei, a quem devemos reverenciar. - Falou Gaspar, enigmático, fazendo trejeitos com as mãos.
Belchior olhou-o com reprovação, pois tinha muito respeito pelo rei Baltazar, seu vizinho, aliado e protetor.  Se ele dizia que ali estava o maior de todos os reis, um grande libertador, então ele exigia respeito, não só pelo recém-nascido, mas por seu parceiro.  Por isto, imaginando-o sarcástico, repreendeu Gaspar com rispidez:
__ Mais uma demonstração de desrespeito ao amigo Baltazar, e seu trono precisará de outro feiticeiro para ocupá-lo. – Vociferou entre dentes, ameaçador.
Gaspar encolheu-se sobre seu camelo, assustado.  Ele, melhor que ninguém, sabia que ali estava um terrível guerreiro, agora um grande aliado, mas que poderia tornar-se mais feroz  inimigo. Implacável. No  entanto, ele ansiava pelo desfecho  dos  acontecimentos. Não tivera a intenção de faltar com o respeito ao pequeno rei. No entanto, entendia que seu passado o condenava.
­­__ Não tive a intenção... – Sussurrou Gaspar, de forma dúbia.
Baltazar nada ouviu do diálogo entre seus dois companheiros de jornada. Parou sua montaria em frente à casa banhada de luz esbranquiçada da estrela-guia, e desmontou. 
Ruídos abafados de curiosos observando, por frestas de portas e janelas entreabertas, não desviaram o foco de seu objetivo. 
O capitão da guarda do rei Baltazar aproximou-se  e chamou em alta voz, em sua língua síria, enquanto batia, firmemente, na porta.

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Então saímos do prólogo e viramos a página onde começa o capítulo seguinte denominado “caravana”. Temos a narração em primeira pessoa de um viajante que fazia questão de permanecer no anonimato. Ele é um dos caravaneiros que chegam ao sultanato de Haydzin e nos descreve o que vê e o que sente: a caravana imensa como uma anaconda descomunal avançando deserto a dentro por um lado e penetrando no pátio exterior do palácio do sultão pelo outro, o sol forte mas que ali naquele reino não castiga o povo. Alguma poderosa magia negra faz a temperatura ficar amena mesmo sob o sol abrasador. Ele também nos descreve a excessiva quantidade e variedade de ídolos em forma de seres disformes e monstruosos...


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REIS QUE REVERENCIAM   COPILADO DO ORIGINAL DO AUTOR


IV-          CARAVANA

Aqui e por todo este imenso reino o sol domina, é ele  o ente supremo.
Por  tão  imensurável  poder  os povos desta região adoram-no  como  o maior dos seus muitos deuses.
Acreditam convictamente que  ele é o grande  criador, o que criou os deuses e deusas  menores, os quais, segundo suas atribuições,   criaram tudo o que podem ver e sentir.
Mirem as imponentes torres do palácio do poderoso sultão Ham-Heindard, estruturas milenares que se elevam até quase tocar as  nuvens. Torres  resplandecentes e bojudas, recobertas com camadas  e camadas  de ouro puro. 
Ao  viajante  desavisado que as avista de longe pelo deserto,  parece haver um sol no céu e outro emergindo das tórridas areias.  Um sublime espetáculo que causa pasmo, reverência e  temor. Ao se aproximar da  colossal construção pode-se observar que são sete torres, sendo uma elevada acima de todas as outras . Maior, mais
brilhante, tendo em sua parte posterior certa inscrição feita em alto relevo em ouro negro, onde se lê: Heind, heindart  oumutzh. Traduzindo seria: Sol, Criador supremo.
Eu, como viajante e explorador, estou chegando agora  próximo `a colina sobre a qual se ergue orgulhoso o palácio do sultão Ham-Heindard.
A caravana na qual estou viajando através do deserto é composta de quase quinhentos camelos, além de algumas dúzias de elefantes negros, sendo que enquanto estou ainda ao pé da colina, o batedor  já está no portão pedindo autorização  para entrarmos no pátio exterior.  O calor e o brilho do sol é muito forte,  mas aqui parece que estamos no inverno, chega a fazer frio. Eu já ouvira falar que a magia dos adoradores do sol rouba dele o calor, mas é extremamente incrível  viver esta experiência, de estar sob o sol abrasador e  sentir na pele a brisa suave do amanhecer.


Olho para trás, a caravana se perde no meio das dunas, fazendo curvas como uma cobra gigantesca.      São mercadores trazendo todo tipo de coisas,  desde alimentos até tecidos, joias, animais de estimação, animais silvestres, artesãos, curandeiros, aventureiros e até mesmo uma trupe de meretrizes, que viajam de reino em reino vendendo o próprio corpo. Nossa travessia desde o porto onde desembarquei e me uni à caravana, já dura cinquenta e sete dias, sendo este o primeiro dos reinos de Heind por onde a caravana vai passar.  São sete grandes reinos ou sultanatos  e  mais de cem sub-reinos,  governados pelos vizires nomeados a dedo pelos sultões, mas o reino de Heindzyn  é o maior e mais esplendoroso deles...   O mais rico.
Agora a caravana se movimenta e vamos penetrar no palácio majestoso da torre do deus Sol.
Eu, particularmente, sinto náuseas quando o assunto é idolatria.
A agitação, o burburinho, ruídos de gente, camelos, cavalos, cacarejar de galináceos, odores perfumados  mesclando-se  ao fedor das fezes dos animais... Caos generalizado.
Ao penetrar no pátio exterior, senti enjôo, vieram-me ânsias de vômito... Terrível  força da idolatria demoníaca cria uma aura pestilenta que toca minha alma e me faz estremecer.  Com certeza aqui é o epicentro da idolatria no mundo.  Nunca havia visto tantas estátuas, tantos ídolos e tantos obeliscos num mesmo espaço.  
Existe uma extensa avenida  cuidadosamente ladeada de flores de todas as matizes, que  se estende desde a  ponte sobre o poço  junto à ponte levadiça, até os portões internos do palácio do sultão.  E  na parte posterior de cada arbusto, flor ou outeiro, projeta-se  uma estátua, um obelisco...  Uma monstruosidade.  São deuses e deusas, com formas humanas, animalescas:  monstruosas, disformes, adornadas com chifres e rabos enormes.   Conjurei um encantamento e me resguardei dos maus fluidos. Suporto a presença dos gênios das trevas somente enquanto me servem, enquanto obedecem aos meus propósitos e executam as ordens que lhes dou, mas jamais imaginei adorá-los como deuses.  E, sempre que possível, ponho bastante distância entre eles e eu.
Fico tentando entender como uma pessoa, por mais ignorante e desinformada que seja, pode se ajoelhar  e orar para artefatos tão horrorosos, sem vida, petrificados, inertes.  “Há um só Criador, um só Deus” – pensei   inconformado.
__ “Baltazar, o grande rei precisa de ouro...” , – Ouvi  a frase , olhei em volta, rostos desconhecidos por todos os lados. 
Segui meu trajeto até a aconchegante estalagem,  onde eu e meus camelos descansaríamos.

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Novo recuo no tempo, iniciando o capítulo denominado “cicatrizes”. Baltazar rememora acontecimentos de quinze anos atrás, quando ainda era um adolescente vivendo como escravo num estábulo onde cuidava de muitos camelos, onde era espicaçado e maltratado por um eunuco persa grandalhão e cruel... 


REIS QUE REVERENCIAM   COPILADO DO ORIGINAL DO AUTOR


V -          CICATRIZES

Tomei  um refrescante banho  e   deitei-me sobre minha esteira de dormir.  Mesmo estando num quarto,  numa estalagem, não me dou com camas. Como quando estou ao relento, prefiro a esteira dura sobre o solo.
Meu turbante de pele de camelo enrolado em minha capa de mestre da magia serve como anteparo à minha cabeça. Relaxo meu corpo, navego num mar de pensamentos desconexos.  Lá fora o sol arde sobre a areia e beija as torres de Heindzyn.  Aqui dentro da estalagem, num quarto com cortinas de tapeçaria, a penumbra causa-me  sonolência.  Caí num sono pesado, agitado por pesadelos há muito deixados para trás.
Acordei, mas ainda me sinto cansado, devo ter dormido por algumas horas. Lá fora já está escurecendo, eu me deixo ficar deitado sobre minha esteira, repassando os fatos que marcaram minha vida e que me causam certo desconforto.
Relembro  aquela voz, a que me chamou pelo nome algumas horas antes, quando cheguei ao pátio  do palácio.  É a mesma voz que ouvi  há muitos anos atrás, quando tinha quinze anos de idade, naquele curral de camelos onde eu vivia. Naquela primeira vez, foi  como um sussurro, como uma brisa suave murmurando dentro de minha mente: “Baltazar, o grande rei precisa de ouro...”
Levantei-me, o sono fugiu.  Sim, a mesma voz, sem dúvida ,  agora, doze anos  depois.   Fiquei a remoer os fatos e as recordações vieram-me, como peças soltas que se encaixavam.
Com quinze anos de idade  eu era escravo na antiga cidade de Ur, dos caldeus.  Órfão de pais cativos de origem desconhecida, minha sina era cuidar dos camelos do meu amo, homem muito poderoso  e temido, por ser versado nas artes do ocultismo.  Na época eu não sabia, mas ele era um grande feiticeiro.  Eu cuidava de seu rebanho de camelos.  Se os animais iam bem, saudáveis, lustrosos, eu recebia um castigo leve.  Se algum apresentava doença ou feridas causadas por carrapatos e bicheiras, então eu era açoitado até sangrar. Desta forma, por força maior, tornei-me  exímio tratador de camelos. 
Eram parte de mim.  Eu vivia e dormia ali mesmo, no grande curral, no meio da forragem .  Até cheirava como um deles. Meu amo, eu via só  de longe quando partia ou regressava de suas constantes viagens.
 Meu carrasco era  um enorme eunuco persa, de olhos malignos, frios, que sentia grande prazer em açoitar-me  como a um cão danado. Mas um dia as coisas mudam.
Lembro-me bem daquela manhã. Eu dormia sossegado quando senti  o ardor da chibata em minhas pernas. Acordei  uma vez mais sendo açoitado.  E o sol nem havia saído, estava ainda meio escuro.  Como sempre fazia, sem outro recurso, fui rolando pelo chão, me arrastando, levando lambadas pelo corpo, até conseguir me abrigar embaixo dos camelos que haviam se levantado devido ao barulho da chibata e de minhas imprecações. 
Fazia bastante tempo que eu já não chorava ao ser espancado.  Praguejava.
E isto fazia o eunuco ficar bastante zangado. 
Como  acontecia sempre, a surra acabava quando eu escapava entre o rebanho e o maldito gargalhava de prazer enquanto eu continuava a erguer os punhos e dizer todo tipo de palavrões.  Cheio de ódio, eu gritava: “ainda vou te matar,  eunuco desgraçado, ainda vou te matar!!!”
Eu transbordava ódio por cada poro de minha  pele suja, recortada de cicatrizes  e mau cheirosa.  Eu vociferava entre dentes: “mas vai ser uma morte lenta, bem devagar e doída.  Uma dor por cada cicatriz que cobre meu corpo, seu maldito...” 
Ele continuava com a chibata erguida, gargalhando de puro prazer.
Repentinamente, para meu espanto e também do persa, saindo da penumbra  surgiu ali, bem à nossa frente  nosso poderoso amo. Imaginei que ele esteve ali todo o tempo assistindo  à cena.  Maldito ele também, - eu pensei.
_ Eunuco, - ele gritou -,   aqui  na minha frente, agora!
Surpreso, o persa se arrastou lentamente até  bem próximo dele. Ficou ali parado, sem saber se abaixava o braço, ou se mantinha a chibata erguida... Abobalhado.
-- De joelhos! -Gritou o amo, irritado -  De joelhos, bastardo!
Surpreendeu-me.  Pensei que ele ordenava as constantes surras pelo fato de eu ser um cativo, um maldito escravo. Sempre me senti como o esterco que eu ajuntava no curral e retirava em grandes sacos. Na verdade, me achava abaixo do esterco, porque este era vendido, gerando ouro para meu amo. Eu não, eu era um nada,  sem qualquer valor, sem qualquer futuro. Será que o amo não aprovava o açoite constante? E eu que sempre sentia asco ao ver meu amo chegar e partir.
Agora, apontou para minha direção e me chamou com voz indiferente:
_ Venha aqui, guardador dos camelos. – Ordenou sem qualquer emoção na voz.
Embora pasmo de surpresa, rapidamente me acheguei a ele.  Parei à sua frente, de pé, firme, a expressão ainda irada.
- Tire estes trapos. Mostre-nos seu corpo marcado! – Ordenou com aquela mesma indiferença no tom.
O eunuco estava ali ao lado, aflito, ajoelhado, cabisbaixo, murmurando frases sem sentido, buscando justificativas.
-- Cale-se, seu inútil! – Ordenou entre dentes o amo.
 Me despi daqueles andrajos que mal me cobriam a virilha e os ombros.   Ele então ordenou ao eunuco:
- Levanta-te, inútil, faça a contagem das cicatrizes de chibata que colocaste neste infeliz!      
Trêmulo, o persa ergueu-se, aproximou-se  e pôs-se a marcar com pedrinhas de cálculo.  Para cada cicatriz depositava uma pedrinha sobre minhas vestes jogadas no chão. Algum tempo depois, quando ele encerrou a tarefa, havia uma pilha de pedrinhas que daria para encher uma bolsa lateral de arreios dos camelos. Daquelas nas quais os viajantes levavam mantimentos  para uma estação de viagem nas caravanas . Era muito mais que eu supunha existir.  O amo falou:
-- Veja Eunuco, este é o resultado de toda tortura tua, de chibatadas tuas sobre a carcaça deste infeliz. – Seu tom era estranho, frio e ao mesmo tempo terrível, cortante. Continuou a falar enquanto tocava-me as cicatrizes no dorso e no rosto:
-- Tantas cicatrizes, tanta dor...  Tanto ódio  acumulado!  Foi este ódio empesteando o ar que me atraiu até aqui. - Mudando o tom, falou-me com certa condescendência na voz:
_ Cubra seu corpo, jovem guardador dos camelos.  Vou fazer justiça. Tirou a chibata da mão do persa e entregou-a para mim.
 __Eunuco, pode se defender;  e você, garoto, pode descarregar esse seu ódio, bata nele o quanto puder!
Foi dizendo isto enquanto virava as costas e saia do curral, fechando os portões e amarrando a trava por fora.
Agora era entre eu e o persa.
Ao ver nosso amo virar as costas o eunuco recobrou seu ar de poder. Atirou-se em minha direção, tomou-me a chibata e reiniciou o castigo esperando que eu fugisse, me arrastando até os camelos a fim de me safar como sempre.
Mas não hoje.  O amo me elevou, me igualou ao persa  ao rebaixar a autoridade dele  reduzindo-a àquele monte de pedrinhas de cálculo.  Ignorei o cortar da chibata, ignorei o sangrar na pele e agarrei o eunuco pelo pescoço com ambas as mãos. Olhei bem dentro de seus olhos e vi o medo que ele sentiu ao se surpreender por eu estar bem mais alto que ele.  Eu havia crescido,  me tornado forte no serviço braçal incessante. Ele, no entanto, apesar de grandalhão, devido à vida de mordomias que levava engordou, ficou flácido.
-- Seu inútil! – Repeti com gosto a frase do amo bem naquela sua cara gorda .
-I  nuu  tilll ! -  Gritei enquanto o enforcava, sustentando-o no ar como fazia com os sacos de esterco.
O eunuco parou de bater, soltou a chibata e tentava em desespero soltar  minhas mãos que o sufocavam, tentava também atingir-me com os joelhos e as pernas.  Tudo inútil. Nada do que fazia conseguia afrouxar minhas garras de ódio em torno de sua garganta. Eu o olhava de cima para baixo, bem nos olhos.  Aqueles olhos tão temíveis agora eram suplicantes, avermelhados, injetados de sangue e dor.
Então eu senti pena. Já não havia em mim mais ódio e ele já não se debatia, estava paralisado, sufocado, em agonia moribunda.  Decerto sentia a morte acariciá-lo com seu toque gelado. Soltei-o. Ele caiu no solo como um trapo, meio torto, em estertores,  parecendo  um ganso  depois de ter seu pescoço torcido pela cozinheira.
Naquele momento veio em minha mente a voz suave, sussurrante:
-“Baltazar, o grande rei precisa de ouro”.

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Em seguida vemos o capítulo   VI - SERVO  E  APRENDIZ



Onde ele se recorda de como saiu da condição de escravo para a de protegido do amo, que descobriu ser um poderoso mago, na verdade o MESTRE DOS MAGOS DA BABILÔNIA.

REIS QUE REVERENCIAM   COPILADO DO ORIGINAL DO AUTOR

O amo voltou e abriu o grande portão do abrigo dos camelos.  Sorriu um sorriso largo ao ver que eu dominara o  eunuco.  Encontrou-me de pé, tendo o persa ajoelhado a minha frente, implorando clemência.
__ Já chega! – Gritou ele.
Em seguida disse:
– Jovem, acompanhe-me...   Qual é mesmo seu nome?
Eu o segui, levando comigo um saco no qual eu guardara o monte de pedrinhas que representavam a quantidade de  minhas cicatrizes  contadas pelo meu agressor.  Senti ventos  de mudança,  daquele dia em diante minha vida mudaria por inteiro,  com certeza.
__ Baltazar, senhor meu amo. – Respondi.
Pela  primeira vez em minha vida entrei  naquela casa.  Depois de tantos anos habitando no curral ali tão  próximo.  Tudo ali dentro era limpo, cheiroso, mas um tanto tétrico.
Havia  uma mulher muito idosa que atendia  ao mestre quando  ele chegava de suas  constantes viagens. Lavava, limpava  e cozinhava,  embora estivesse  já decrépita e quase cega. Eu via-a sempre de longe, mas neste momento eu a vejo frente a frente.  Coitada,  de perto  é ainda mais velhinha e acabada, só que tem um semblante de humildade e simpatia. O amo  deu ordens e ela levou-me até certo aposento próprio para banhos, já preparado com água morna.  Ordenou-me tirar os trapos como se eu fosse uma criança.  Obedeci. Ela então fez uma faxina completa em mim.  Fui ensaboado, escovado, raspado, novamente ensaboado, enxaguado e  outra vez mais tudo se  repetiu.  Então fui perfumado e vestido com macia túnica  de  seda,  tão suave como nunca imaginei existir coisa assim.
Em seguida, ela serviu-me comida numa grande mesa, abarrotada de frutas e carnes assadas...  Tantas  iguarias  como eu sempre sonhara  nas longas noites de fome e agonia passadas no estábulo durante toda minha vida. Deliciei-me com sabores inimaginados.  Eu devorava tudo ao mesmo tempo.
A velhinha recomendou-me:
__ Calma, coma devagar, mastigue bem... Senão o menino morre engasgado...
Contive-me.  Não queria ficar gordo e flácido  como o eunuco.
Quando parei de comer,  ela me serviu um delicioso chá digestivo.  A boa mulher conduziu-me a um dos quartos e disse:
__ Agora é seu,  homenzinho... – Ela falava com muita doçura. 
Disse também que eu deveria repousar, porque meu amo me  levaria com ele  já nesta próxima expedição, sendo que eu desempenharia as funções de aprendiz e guarda-costas.
Fiquei  extasiado.
__ Descanse bem,  - disse ela-, partirão de madrugada para uma longa viagem  até a Etiópia...
Eu nem imaginava o quê ou onde era a tal Etiópia, mas gostei da palavra.  Era boa  de  se ouvir. Quando ela saiu do quarto, pude ouvi-la resmungando baixinho algo como:  “nunca vi tanta cicatriz, nem em animal...  Deuses muito potentes devem ter tido piedade do coitadinho”...
Nem liguei, tratei de dormir, pois eu não sabia nada sobre  deuses potentes.
Partimos numa  pequena caravana  de  camelos do meu amo,  ainda na escuridão e no frio da madrugada. Viajamos por planícies sem fim, por mares de dunas de areia tostadas de sol, por montes gelados, por matagais infestados de feras selvagens e insetos pestilentos.

O inverno seguinte  encontrou-nos  nos montes gelados das montanhas do norte.  Meu mestre  fazia muitas paradas, tinha encontros com governantes de todos os lugares por onde passávamos.  Todos  tinham necessidade  dos préstimos do Mestre dos Magos da Babilônia, que era uma espécie  de seita secreta, mas bastante conhecida dos homens poderosos, os  quais recompensavam-no com muito ouro, joias e pedras preciosas.
Na época do segundo inverno, queimávamos nas tórridas  dunas de areia do terrível deserto do Egito.  Dali em diante, sempre  estávamos cercados pela selva e um povo negro, entre os quais destacavam-se como governantes poderosos  feiticeiros,  mestres da magia negra.
Durante todo este tempo, meu amo instruía-me sempre, todos os dias e todas as  noites, sobre astronomia,  astrologia e encantamentos. Entretanto, nestas terras de escuridão da pele humana,  ali foi onde  começou e se desenvolveu verdadeiramente meu  treinamento.
Chegamos a  certa aldeia, na qual os habitantes praticavam uma feitiçaria chamada vodu e meu amo deixou-me ali, como aprendiz do grande Maguhla, o maioral daquelas  paragens.  Meu amo deu-lhe muitos talismãs, que ele pegava com avidez, em troca de meu treinamento, e partiu, prometendo voltar quando meu  aprendizado se findasse.
Com este feiticeiro  cruel e insensível eu aprendi todo tipo de ritual de magia negra, até mesmo aqueles que exigiam sacrifício de seres humanos.  Aprendi a usar os espíritos e os gênios das trevas, os quais eu dominava e colocava sob meu comando, como servos e escravos. Eles vinham a mim mansos e submissos, bastando para isto certas conjurações,  que comecei a aprender com Maguhla, mas que após algum tempo,  eram sopradas pelos próprios gênios em meus ouvidos, como se adorassem  me servir todo o tempo. Acreditei-me  soberano das criaturas das trevas.  Gostei do poder e a cada momento unia-me mais intrinsecamente a estes seres que me serviam e me ensinavam quais encantamentos deveria usar para  tê-los como meus escravos.
Tão grande tornou-se meu poder, que, humilhado, o mestre Maguhla mandou-me regressar  para  meu amo antes que ele voltasse para me buscar.
Maguhla, eu acreditei, temia meu grande poder.
Quando eu estava  partindo de sua aldeia para retornar à casa de meu amo e protetor, Maguhla  sussurrou  em  meu  ouvido, com sua voz arrastada que mais parecia o sibilar de uma serpente:
__Criança inocente, mas petulante,  resguarda-te contra estes seres infernais...  Não se faça refém tão rapidamente...  Neste teu agir insensato, este poder o devorará...  Seu fim virá breve... De jeito trágico... 
Nem liguei, ele estava despeitado, pois eu o superava na dominação dos gênios das trevas. Ignorei suas palavras. “Eu é que  sei”.
Parti dali com meu ego maior que o oceano por onde eu navegaria  por alguns meses em minha viagem de retorno para casa.
Sentia-me  uma  divindade.
Chegando à casa de  meu amo, após a demorada viagem,  ele recebeu-me com um sorriso paternal e forte abraço. Estranhamente, não fez sequer uma pergunta sobre meu aprendizado  ou qualquer outra questão referente ao mestre feiticeiro da magia negra vodu  Maguhla, nem porquê  eu voltara antes que ele fosse me buscar.  Concluí  que  ele  sabia de tudo o que ocorrera ou que tinha muitos projetos em andamento  e que gostara de ter-me de volta para auxiliá-lo.  De qualquer forma, eu estava ali, junto da única pessoa que me demonstrava afeição, que eu quero corresponder  da melhor forma possível, fazendo de seus mais insignificantes pedidos  uma ordem.  

Finalmente, eu estou em  minha casa.

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ENTÃO ACONTECE A TRAIÇÃO...

VII -       FRUSTRAÇÃO

Meu pai, - embora eu o chame de  amo, em meu coração ele é meu pai e protetor - , demonstrando todo seu apreço por mim e total confiança em minha capacidade, passou a enviar-me aos mais diversos lugares, inclusive aos reinos vizinhos para executar missões, para ele muito importantes.
Se eu não estivesse ali, ele teria que ir, então eu me sentia de grande valia. Eram incumbências tais como obter certa espécie de planta rara e exótica nas estepes geladas nos  confins  da Ásia,  caçar animais raros e retirar-lhes o sangue ou chifres ou o coração e entregar ao mestre sem deixar que coagulasse ou apodrecesse, infiltrar-me nas expedições  dos exploradores  nas pirâmides do Egito, a fim de furtar valiosos talismãs,  capturar animais selvagens carnívoros nas savanas do continente negro,  capturar serpentes e retirar-lhe o veneno para o mestre usar em seus encantamentos. Coisas deste tipo.
Depois, como eu me sobressaia por ser muito alto e forte,  além de impor medo pela minha aparência recortada de cicatrizes por todo o corpo e faces, ele nomeou-me chefe dos guardas que protegiam suas caravanas  vindas de Ophir, abarrotadas de ouro e jóias . Durante dois longos anos eu o servi nesta função, enfrentando hordas de ladrões e assassinos sanguinários.
Em todas  as  empreitadas eu me saí bem e sempre retornei ao meu paizão com a satisfação da missão cumprida, vitorioso, subjugando toda dificuldade e obstáculo que houvesse.  Minha satisfação era receber de meu amado protetor aquelas amistosas tapinhas nas costas.  Eu nada mais pedia, aquela demonstração silenciosa de aprovação me deixava extasiado. Com minha total dedicação sentia estar fazendo-o feliz.
Para executar as ordens eu usava todo o tempo  minha magia negra, conjurando e escravizando os gênios das trevas,  que me serviam cada vez  com mais submissão e eficiência. Tudo com o objetivo de levar alegria ao meu amo, mestre, protetor e pai,  o supremo mestre dos magos da Babilônia.
Assim, com o passar  do  tempo, eu me aperfeiçoava  mais e mais nas artes do ocultismo e, principalmente, da magia negra.
Certa ocasião, meu amo colocou sob meu comando três misteriosas  personagens.  Eram  guerreiros cobertos por vestimentas negras e com o rosto coberto por estranha  máscara. Ordenou que eu os levasse comigo a toda parte, todo o tempo, como se fossem minha  sombra. Ordenou-me  levá-los comigo, incondicionalmente, em todas as missões e na execução das mais simples tarefas cotidianas. 
Encaixei-os  em  minha rotina, mas era muito esquisito ter aquelas três figuras cercando-me, rodeando-me todo o tempo. Obedeciam-me prontamente, lutavam de forma imbatível, usavam suas adagas de  prata, mostrando serem  matadores natos.
O mais estranho, é que não se alimentavam.  Não comiam nenhum alimento nem bebiam água e comunicavam entre si com grunhidos para mim ininteligíveis. Vestiam-se todo o tempo de cor preta, cobrindo-se dos pés à cabeça, tendo o rosto coberto por grotesca máscara de ferro, a qual  continha apenas duas aberturas  na altura dos olhos.
Com este trio auxiliando-me, o amo passou a confiar-me missões mais sigilosas e muito mais arriscadas, tais como invadir fortalezas de feiticeiros rivais para furtar talismãs ou artefatos  preciosos à sua magia.  Com a assistência dos três brutamontes  negros, eu sempre executava cada missão com muita facilidade, aliando minha magia e esperteza à força bruta deles.
Éramos imbatíveis. Minha admiração pelo meu protetor aumentou muito. Ele criou aqueles guerreiros para minha proteção, agora eu entendo.
Então, num dia qualquer de outono, o mestre e pai instruiu-me numa missão, para ele de vital importância, sendo que eu deveria voltar trazendo certos órgãos de corpos humanos , de pessoas por ele escolhidas,  os quais ele usaria em sua magia de fortalecimento.



Como sempre, me prontifiquei em obedecer suas ordens, que ele  resumiu assim:  “_ Meu precioso Baltazar, juntamente com seus três guerreiros negros, penetre na fortaleza do Sheik  alhl-ib-sohl,  nas terras da Arábia, evitando ser notado, mas se acontecer, não deixe testemunha viva, elimine todo inimigo que atravessar seu caminho.  O sheik me deve uma grande fortuna, mas  recusa-se a pagar. Então, eu não quero mais seu ouro.  Ele tem coisa muito mais preciosa... – neste ponto, ele apertou os olhos, que me pareceram  frios e cruéis, como  eu ainda não vira antes,  e continuou falando - , ele tem duas filhas jovens e virgens.  Você, Baltazar, vai trazer-me ainda pulsando e quente, os dois coraçõezinhos das moças.
Eu não me surpreendi.  Para mim era apenas mais uma missão.  Tanto fazia que ele me ordenasse trazer o coração de dois cavalos puro-sangue  do sheik ou o de suas filhas... Era apenas mais uma missão.
Ele concluiu com voz firme:
__ Eu quero, com toda urgência, estes dois corações destas duas virgens em minhas mãos!   Faça seus preparativos para a breve viagem com rapidez, e enquanto isto, quero ter uma conversinha particular com seus três ajudantes...
Comecei rapidamente a separar tudo o que precisaria para a empreitada. Enquanto isto, meu mestre fechou-se em seus aposentos com os três “gorilas”, dando-lhes alguma instrução que, com certeza, não era de meu interesse. No entanto, estranhei a forma como eles passaram a olhar-me após  saírem da inesperada reuniãozinha  secreta.  Olhavam meio de lado, disfarçando, como se me estudassem,  como se estudassem uma presa, na verdade.Eram como predadores avaliando sua caça. Eu desconfiei imediatamente desta forma estranha de agir, o que estava acontecendo? Principalmente, temi por meu amo que nada sabia e de nada desconfiava tendo-os por leais.  Imaginei que, por algum motivo, eram favoráveis  ao sheik  alhl-ib-sohl  e  poderiam trair a mim e  ao meu paizão. Tentei agir com naturalidade, para não alertá-los sobre minhas suspeitas. Só não falei nada ao amo para não causar-lhe sobressalto. De toda forma, eu o protegeria, jamais permitiria que aqueles seres o ameaçassem. Ele foi a única pessoa que me tratou com respeito, que me deu oportunidade para conhecer e aprimorar  meus talentos na magia e no ocultismo.  Era meu amo, protetor, mestre e pai.  Foi o único que me valorizou.  Abriu-me a porta do mundo e tornou-me apto a  conquistá-lo.
Partimos para as terras do sheik árabe, viajando sobre camelos por sete dias e meio. Chegando às proximidades de nosso destino, avistamos os altos muros do palácio, era  uma verdadeira fortaleza, bem vigiada por muitos sentinelas com lanças,  outros com arcos e também,  por muitos cães ferozes, que estavam acorrentados e ladravam sem cessar. Para não levantar suspeitas nas sentinelas, continuamos  em frente, como se fôssemos  seguir viagem.  Alcançando um sítio fora de sua visão,  montamos acampamento nas areias do deserto que circundava o palácio. Os camelos deitaram-se no solo e os três assassinos se recostaram neles para repousar. Usando magia, fiz uma pequena fogueira, que crepitava sobre a areia, sem soltar fumaça. Forrei o solo com um tapete, próximo à fogueira e iniciei um ritual de magia negra para invocação dos gênios das trevas  inferiores.  Em transe, com os olhos fechados, meu espírito se libertou e com minha visão espiritual, eu observava os três suspeitos, vigiando cada gesto, cada movimento que faziam.  A noite avançava, o tempo passando e eu ali, em transe, com os olhos cerrados. Eles foram ficando inquietos, gesticulavam, moviam-se em círculos, agitados, resmungavam, rosnavam...
Invoquei  certo gênio das profundezas  e  ordenei-lhe que descobrisse o que diziam uns aos outros  e  o   que tramavam  em  suas  mentes. O gênio surgiu com a aparência (espiritual) de enorme serpente, porém, ostentando  seis  pés de ave de rapina e penas ralas em alguma partes de seu corpo fétido. Aproximou-se  dos  três  e envolveu-os com seu hálito de morte, paralisando-os, mas sem causar-lhes dano.  O ser  tinha a capacidade de ler pensamentos como se fosse um pergaminho aberto na luz. Os pensamentos dos três eram nebulosos, banhados de sangue e traição. Em transe, eu via tudo o que o gênio via. Ele ia decifrando os mistérios  do coração e da mente daqueles assassinos e eu tomava conhecimento de imediato.  
Pude vê-los recebendo ordens do meu amo sobre nossa missão em andamento. Eles deveriam seguir minhas ordens até que os dois corações das duas filhas virgens do sheik estivessem acondicionados nas bolsas de transporte fornecidas pelo  amo.  Então,  deveriam atacar-me,  arrancar meu coração e, após queimar os três corpos aviltados, retornar ao mestre com toda urgência possível. O amo precisava de três corações de três virgens, não dois somente. Fiquei boquiaberto,  extremamente abalado, jamais imaginaria tal atitude do meu protetor. Fiquei sem ação, abobalhado.
Eu estava tão acostumado a ser o braço forte do meu amo, que minha mente não conseguia digerir aquela traição, nem esboçar revolta  ou insurreição.  Sempre fui totalmente obediente  ao meu amo, acatando com retidão e urgência todas as suas ordens.  O que vou fazer? Jamais vislumbrei causar-lhe mal.  Mas, agora é ele ou eu. O que vou fazer, matar os três assassinos e fugir?  Mas como  e para onde fugir de um homem com tanto poder e conhecimento como meu amo? Ele conhecia cada governante de cada nação. Fugir é impraticável. Ele me perseguiria, me aniquilaria, até obter o que queria. Para meu espanto, descobri que um daqueles assassinos era uma forma amorfa do eunuco  persa, que tanto me castigara. Então, afinal, minhas cicatrizes foram causadas por vontade do meu amo. Que tristeza!
O gênio queria  matá-los rapidamente,  fazendo-os respirar seu hálito fatal, eu o impedi e ordenei que não lhes fizesse mal.
Ele retrucou desconsolado: ”Eles são assassinos, só descansarão após matá-lo”.  “Estou ciente”- respondi mentalmente- “mas não lhes faça mal, apenas mantenha-os paralisados, até que eu ordene libertá-los”.
Analisei rapidamente a situação, projetei ações  e avaliei consequências, até encontrar a melhor solução. Resolvi colocá-la  em  prática imediatamente. Afinal, havia uma saída honrosa, e com vitória.
Invoquei outro ser infernal, uma fêmea diabólica, a qual se manifestou na forma de gigantesca  lagarta, maior que um camelo. Seu nome não  se  pode pronunciar, é uma sequência de impropérios. Eu a chamava “perdição”.
Ordenei-lhe que criasse um escudo protetor  afim de isolar-nos dos poderes de meu amo. Ela prontamente atendeu. O que eu iria fazer não podia ser do conhecimento de meu ex benfeitor.  Formou-se uma espécie de redoma invisível, que nos mantinha fora do alcance de qualquer ser vivente.
Enquanto eu agia para derrotar meu algoz e sobreviver à sua sentença de morte, o gênio serpente se divertia, fazendo os três guerreiros hipnotizados moverem-se  como soldadinhos de brinquedo. Fazia-os andar,  assentar, fingir de morto,  virar cambalhotas, correr  e  marchar. Quando ficou entediado com isto, fê-los dançar como odaliscas.
Ignorei-o e concentrei-me em meu plano. Eu tenho que enviar ao meu amo três corações virgens, bem como fazê-lo crer  que eu estava  morto. Então, arranquei um fio de cabelo de minha cabeça e, com magia, fiz desenvolver-se instantaneamente um clone,  um outro eu,  semelhante em tudo, porém de mente vazia,  abobalhado.
Perguntei à lagarta gigante quantos filhotes ela havia gerado quando viveu na terra num corpo animal. Ela respondeu que nunca se acasalara. Pedindo sua autorização, arranquei-lhe da pele duas penas e destas, usando de fortes conjurações, criei dois corpos de duas moças, que embora jovens, tinham uma aparência horrível, mas isto não tinha importância, o importante é que tinham  a pureza virginal em seus corações fortes. Também elas eram destituídas de espírito vívido, quedavam-se paradas, boquiabertas.
Fazendo novas conjurações, obtive ajuda dos dois gênios para finalizar meus intentos: colocaram meu sósia e os dois gerados das penas da lagarta dentro da fortaleza do sheik, num calabouço, na parte inferior, ao nível do solo externo e, fazendo um grande buraco no muro, um rombo por onde poderiam passar os guerreiros negros. O gênio lagarta mantinha-me isolado, invisível  e intangível ao poder de meu amo, também oculto dos três assassinos e de todos os habitantes do castelo, inclusive o sheik.
Na mente dos três assassinos, foi plantada a ilusão de que estavam já há algum tempo junto ao muro,  esperando-me sair de dentro do calabouço pelo buraco  que desembocava dentro da fortaleza do Sheik.  Eles acreditavam estar esperando eu voltar  para fora, trazendo os dois corações das duas jovens virgens moradoras do palácio. Foi ainda plantado em suas mentes que eles deveriam matar as virgens,  e  não eu. Foram colocados ali, junto ao buraco e libertos do domínio do gênio. Despertaram agitados, prontos para a ação.
“Vamos, vamos entrar e executar as ordens do amo.”, E o outro: “Vamos, o que estamos fazendo aqui parados...”  E ainda o terceiro “Sai da frente, eu quero arrancar o coração daquele bastardo metido a mágico..”
Com fúria invadiram o calabouço. Alguns sentinelas e carcereiros  que ao acaso cruzaram com eles foram trucidados com muito gosto.
Encontraram meu sósia na cena montada pelo gênio serpente, conforme minhas ordens: meu sósia, parado, com um punhal na mão, ameaçando matar  as duas moças, que encontravam-se jogadas ao solo, amarradas com uma fina corda de seda.

Sem hesitar e com grande prazer,  mataram os três jovens, arrancando seus corações  e incendiando seus corpos ensanguentados.  Guardaram os preciosos órgãos nas bolsas de couro fornecidas pelo amo...

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Acima demonstração de alguns capítulos narrando o início da vida de uma das personagens, o mago Baltazar,  o pagão que foi escravo, depois aprendiz de mago, em seguida se tornou o sucessor de seu amo angariando para si o título de Mestre dos magos da Babilônia, tendo ganhado com o título um sem número de perigosíssimos inimigos, ou seja, todos os demais magos, que não aceitavam um rapaz tão jovem se tornar seu líder.

Um torneio de magia entre todos os magos da referida sociedade secreta iria decidir quem era o mais poderoso e os outros magos recomendavam a Baltazar abdicar do título de Mestre e fugir do torneio, para não ser morto.

Não devemos entrar em mais detalhes, resumindo, Baltazar foi um mago muito cruel, um feiticeiro que matava mediante pagamento prévio sem piedade, sem qualquer culpa na consciência. 

Ficou muito conhecido e foi muitíssimo temido, exatamente pelo seu poder descontrolado e sua crueldade natural. Até os mais poderosos reis temiam sua presença.

Entretanto, durante a execução de sua aventura mais audaciosa, quando se sentia quase um deus, tamanho era seu controle sobre os seres das trevas, os quais ele chamava ora de gênios das trevas como de demônios, houve uma grande traição inesperada. Os seres da escuridão não só o obedeciam como ainda lhe ensinavam mantras secretos que o tornavam mais poderosos. Tinha, porém, um ser das trevas que por ser muito poderoso sempre era acionado por Baltazar, o qual o tinha como um escravo sem capacidade de se livrar de seu jugo.

No momento mais crucial, houve uma reviravolta e Baltazar foi enviado para a morte certa pelos seres da escuridão.
Foi aí que ele encontrou o dono da voz que lhe dizia “Baltazar, o grande rei precisa de ouro”.

Uma sinopse não pode ser um resumo do livro, então, para finalizar, acrescento que Baltazar se tornou rei, e rei poderoso, só que vivia para executar a missão que Deus lhe deu:
Levar ouro para o rei mais poderoso que iria nascer neste plano de vida material, uma criança que iria nascer num lugar distante, sendo ela o próprio filho de Deus. 

O SENHOR lhe dera a missão mas não disse quando iria ordenar que partisse, nem para onde. Baltazar só sabia que mais dia menos dia Deus iria mandar que ele rumasse com uma caravana em direção ao desconhecido, levando uma oferenda de moedas de ouro para o pequeno Deus nascido homem.

Contudo, Deus criou uma situação onde Baltazar ficou conhecendo os dois reis seus vizinhos, os quais eram feiticeiros e adoradores de ídolos mortos. Por ironia ou por plano de Deus, os dois reis magos acabam se comprometendo com Baltazar e acompanhando-o em sua missão de visitar e reverencia, adorar ao Deus menino, o pequeno grande rei.

Foram meio a contragosto, mas tiveram que ir, pois haviam feito um trato com Baltazar. 

Assim três reis magos e uma pequena caravana formada por guerreiros bem armados, cada um montando um belo camelo negro, partiu das terras do longínquo oriente seguindo uma brilhante e pálida estrela guia.

Viajaram por muito tempo, sempre seguindo a estrela guia. 

Quando chegam perto de Jerusalém, quando avistam as muralhas da cidade, o pânico domina os dois reis companheiros de Baltazar. Tanto Gaspar, o feiticeiro quanto Belchior (e todos seus guerreiros dominados pela magia e por feitiçarias), o idólatra suplicaram que ele não os obrigasse a entrar no interior daqueles muros onde um Deus terrível morava.

Assim, por algum tempo, acamparam fora de Jerusalém, foi quando o inimigo agiu com mais furor contra eles, matando muitos de seus guerreiros e, na forma de leão e leoas, cercaram e atacaram o gigantesco rei idólatra Belchior, rasgando-o com garras e dentes afiados na escuridão do deserto.

Vamos parar por aqui, quem quiser saber os detalhes (em capítulos anteriores aconteceram invasões, guerras, revoltas, houve a aparição e participação de vários anjos com suas espadas mortais...) vai ter que baixar o livro REIS QUE REVERENCIAM, da autoria de Geraldo de Deus Romes e com participação de Ana Carolina Romes, no site da AMAZON KINDLE.

https://www.amazon.com.br/REIS-REVERENCIAM-Geraldo-Deus-Romes-ebook/dp/B01H99KGHG

O Ápice da história é o encontro dos reis do oriente e seus guerreiros com José e Maria. 

Surpreendente é o encontro deles com o rei criança, quase recém-nascido.

Só quem leu pode dizer como é tocante, como é sublime o que acontece.

Boa leitura.


Missionário Virtual Geraldo de Deus                  2016 agosto, 11



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