Rússia e EUA estão no pior momento



                         
Difícil lembrar de um período, desde o fim da chamada Guerra Fria, em 1991, em que as relações entre Rússia e EUA tenham estado tão ruins.
O governo americano classifica como "massacre" a ofensiva conjunta das forças sírias e russas na cidade de Aleppo e denuncia crimes de guerra.
O presidente russo, Vladimir Putin, falou claramente sobre a deterioração do clima entre Washington e Moscou e insistiu em afirmar que o governo de Barack Obama prefere fazer imposições a dialogar.
Ainda assim, russos e americanos continuam discutindo a situação na Síria.Isso porque, apesar de toda retórica e acusações, os dois países sabem que têm um importante papel em qualquer acordo final sobre o conflito.
Uma guerra permanente na Síria não beneficia Moscou nem Washington.

Alicerces fracos

Entretanto, sem um nível básico de confiança e entendimento, qualquer tentativa de diálogo será construída sobre alicerces fracos.
Ninguém sabia como as coisas aconteceriam, mas sabia-se que o fim da Guerra Fria traria consigo uma nova era.
Durante certo tempo a Rússia saiu do cenário global, mas agora retornou com mais força, desejosa de consolidar sua posição nas áreas vizinhas, recuperar um pouco do antigo protagonismo mundial e equilibrar o que vê como uma humilhação do Ocidente.
Afinal, quando tudo desandou? Por que Rússia e Ocidente não conseguem forjar um tipo diferente de relação? Quem é responsável por isso?

Insensibilidade dos EUA ou nostalgia russa?

Podemos descrever o momento atual como uma nova Guerra Fria?
Não vou tentar responder a todas essas perguntas.
A complexidade do assunto exigiria um livro tão longo quanto Guerra e Paz, de Tolstoi. Mas tentarei dar algumas pistas.
Para Paul Pillar, pesquisador do Centro de Estudos sobre Segurança da Universidade de Georgetown e ex-agente da CIA (o serviço secreto americano), os erros iniciais são do Ocidente.
"Essa relação começou a piorar quando o Ocidente não tratou a Rússia como um país que tinha se livrado do comunismo soviético", disse Pillar.
"A Rússia tinha que ter sido recebida dessa forma em uma nova comunidade de nações, mas o que aconteceu é que o país acabou sendo considerado sucessor da União Soviética, herdando inclusive o status de principal foco de desconfiança do Ocidente."
Esse pecado original, digamos assim, foi agravado pelo entusiasmo ocidental em expandir a Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), primeiro admitindo países como Polônia, República Tcheca e Hungria, que tinham uma longa tradição nacionalista e de luta contra o regime de Moscou.
Mas a expansão da Otan não parou por ali. Foram acrescentados países bálticos como Lituânia, Estônia e Letônia, que faziam parte da antiga União Soviética.

Tratamento injusto

Os críticos perguntam por que razão Moscou resiste à ideia de que Georgia ou Ucrânia passem para o lado do Ocidente.
Resumindo, a Rússia acredita que foi tratada injustamente desde o fim da Guerra Fria.
Claro que esse não é o pensamento vigente no Ocidente, que prefere destacar o revanchismo russo, personificado por Vladimir Putin, homem que descreveu o colapso da União Soviética como "a maior catástrofe geopolítica" do século 20.
Há um debate interessante entre especialistas americanos sobre qual dos lados teria razão.
Devemos nos voltar para os erros estratégicos iniciais do Ocidente ao lidar com a nova Rússia ou considerar as recentes ações de Moscou na Geórgia, Síria ou Ucrânia?
John Sawers, ex-chefe do MI6 (o serviço secreto britânico) e ex-embaixador britânico nas Nações Unidas, observou o desenvolvimento da diplomacia russa. Ele prefere falar do período mais recente.
Em entrevista à BBC, Sawers disse que, nos últimos oito anos, o Ocidente não deu atenção suficiente ao estabelecimento de uma relação estratégica correta com a Rússia.

Sinais contraditórios

"Se houvesse um entedimento claro entre Washington e Moscou sobre as normas que devem ser adotadas - para que um país não prejudique o outro - a solução de problemas regionais como Síria, Ucrânia ou Coreia do Norte poderia ser mais simples", disse.
Vários outros especialistas também destacam o papel da diplomacia do governo Obama, que frequentemente enviou sinais contraditórios.
O poder absoluto de Washington talvez esteja diminuindo, mas as vezes os EUA parecem divididos sobre os diferentes níveis de poder que lhe restam.
As perguntas se sucedem:
Estariam os EUA voltando sua atenção para a Ásia e até que ponto o país tem realmente minimizado seu papel na Europa e no Oriente Médio?
Washington está preparado para apoiar sua retórica com o uso da força? (Na Síria, essa resposta tem sido não.)
Os EUA realmente pensaram nas implicações das suas posições em relação a Moscou?
Em 2014, às vésperas da anexação da Crimeia, Putin discursou no Parlamento russo e advertiu:
"Se você comprime uma mola até o limite máximo, ela voltará com força na direção contrária. Lembrem-se sempre disso."
O professor Nikolas Gvosdev observou em artigo na revista americana The National Interest, especializada em política, que "a resposta prudente seria encontrar formas de reduzir a pressão sobre a mola ou se preparar para aguentar o golpe quando a mola voltar à forma original".
Quaisquer que tenham sido os erros do passado e quem quer que tenha sido responsável por eles, o fato é que agora chegamos onde estamos.
E onde estamos? Estão EUA e Rússia à beira de um conflito pela Síria? Não creio. Então por que existe a ideia de que estamos entrando num novo período de Guerra Fria?

Competição por influência

O ex-agente da CIA Paul Pillar acha que esse não é o termo correto.
"Não estamos vendo o tipo de competição ideológica que caracterizou a Guerra Fria e felizmente já não temos outra corrida nuclear armamentista", explicou.
"O que resta é uma grande competição por influência. A Rússia é uma potência menos expressiva do que foi a União Soviética e do que a superpotência que os EUA ainda são".
E quanto ao futuro? Às vésperas das eleições presidenciais nos EUA, Moscou talvez acredite que por enquanto tem o caminho livre.
Há sinais de que os russos estão tentando usar esse caminho para criar várias zonas de conflito de tal maneira que o próximo ocupante da Casa Branca se veja diante de um fato consumado.
É uma situação parecida com a de 2008, quando as relações EUA-Rússia foram congeladas na véspera da entrada dos russos na guerra contra a Geórgia.
Isso causou um desastre na política do governo George W. Bush em relação a Moscou e é um caos herdado pelo presidente Obama.
Lembram do famoso "recomeço" das relações com a Rússia pregado por uma Secretária de Estado americana chamada Hillary Clinton? Bem, isso não avançou muito.

Desafio para o próximo presidente dos EUA

John Sawers disse à BBC que "o próximo presidente dos EUA - espero que seja Hillary - tem a grande responsabilidade de estabelecer um tipo diferente de relação".
"Não estamos buscando uma relação mais quente com a Rússia, tampouco uma relação mais fria", afirmou.
"O que buscamos é um entendimento estratégico com Moscou sobre como atingir a estabilidade global, em toda a Europa e entre a Rússia e EUA, para que a estabilidade fundamental do mundo tenha uma base mais sólida do que teve até agora".
Sawers concluiu que a chamada "Pax Americana" - a paz relativa no Ocidente desde a Segunda Guerra Mundial - foi um período muito curto, que agora terminou.


FONTE: UOL





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01 DE SETEMBRO DE 2016

EUA e Rússia prosseguem discussões para nova trégua na Síria

Genebra, 1 set (EFE).- Representantes dos mais altos níveis de defesa, segurança e diplomacia dos Estados Unidos e da Rússia estão reunidos em Genebra, na Suíça, para tentar completar os detalhes de um acordo para uma nova trégua na Síria, confirmou nesta quinta-feira o enviado especial da Organização das Nações Unidas (ONU) para a Síria, Staffan de Mistura.


Ele antecipou que seu escritório apresentará uma nova iniciativa política para deter o conflito na Síria antes do início da Assembleia geral da organização, em meados deste mês.

"As discussões atuais (entre EUA e Rússia) vão além da trégua de 48 horas solicitada pela ONU em Aleppo para fornecer ajuda humanitária à população", esclareceu Mistura.


Os responsáveis das Relações Exteriores americano, John Kerry, e russo, Sergei Lavrov, se reuniram na semana passada em Genebra para tentar fechar um acordo de fim das hostilidades na Síria, o que não conseguiram, mas anunciaram que seus especialistas continuariam as discussões para chegar a um entendimento.

"Nós apoiamos essas discussões. Agora todo o restante é marginal porque a ajuda humanitária não está entrando onde precisa por causa dos combates", explicou Mistura.

Sobre a nova estratégia política que prepara, ele adiantou que será "bastante clara" e será divulgada na semana anterior à Assembleia geral para que seja analisada durante o fórum.

Por sua vez, o enviado especial confirmou a "crescente militarização" do conflito sírio e lançou uma chamada aos Estados Unidos, Rússia, Irã, Arábia Saudita e, em geral, aos países com influência no conflito sírio para que ajudem a destravar o acesso humanitário a Aleppo.

Sobre isso ele disse que a ONU "continua lista para transportar a ajuda em qualquer momento, apenas não recebamos as indicações das partes" em conflito. Já sobre o bloqueio da ajuda vital para os civis que se encontram em áreas sitiadas militarmente, informou que ao longo de todo o mês passado foi possível acessar três das 18 localidades cercadas.

A população ajudada em agosto representou menos de um terço da que está em todas as zonas sitiadas do país, a grande maioria pelas forças do regime sírio.

O coordenador desta operação humanitária, Jan Egeland, disse que à ONU espera agora a resposta do governo a seu plano de operação para setembro, com a qual se pretende levar ajuda a 1,2 milhão de pessoas.

Egeland lamentou em particular a situação da população em Daraya, na periferia de Damasco, assediada há quatro anos e aonde chegou apenas um comboio com ajuda durante todo este tempo, apesar de a ONU pede semanalmente às autoridades que lhe permitam entrar com ajuda.

"Precisamos romper com os assédios, mas isto não se alcança simplesmente quando a população se rende pela crise de fome e os bombardeios, mas quando há acesso humanitário e liberdade de movimento para os civis", enfatizou Egeland. 

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