O cego de Jericó




E depois, foram para Jericó. E, saindo ele de Jericó com seus discípulos e uma grande multidão, Bartimeu, o cego, filho de Timeu, estava assentado junto do caminho, mendigando.
E, ouvindo que era Jesus de Nazaré, começou a clamar, e a dizer: Jesus, filho de Davi, tem misericórdia de mim.Marcos 10:46,47.



ANTES ERAM AS TREVAS SUA REALIDADE. ENTÃO O MESTRE DEU-LHE A LUZ E AS CORES DA VIDA. NO ENTANTO, AO VER O MESTRE SENDO CRUCIFICADO, VOLTOU ÀS TREVAS.  PORÉM, TENHAM CERTEZA, PARTIU PARA A LUZ ETERNA.



JOÃO 1.5   E a luz resplandece nas trevas, e as trevas não a compreenderam. 

A  RUDE  CRUZ

Empurrando e forçando a passagem entre a multidão ensandecida, subi pela trilha.  Havia muitos soldados romanos que, identificando-me como mais um judeu local, olhavam-me com desdém, cuspindo no solo e praguejando, murmurando impropérios.
Segui em frente, sempre empurrando, forçando a passagem. Meu peito retumbava como um tambor descompassado, eu arfava, não de cansaço, mas de ansiedade.
 “O Mestre, quero ver o Mestre, preciso...”
Minha mente não cessava de repassar esta frase com sofreguidão.

O sol estava causticante, o calor sufocava e meu suor empapava a pele por todo meu corpo.  
Meus olhos ardiam, inundados de suor e lágrimas, numa mistura de dor e sal.

Eu vejo o céu azul sem nuvens, eu vejo o colorido das vestimentas, mas o suor embaça minha visão.
  
Eu temo as trevas, eu que vivi quase toda minha vida na escuridão e nas trevas... 
Sim, há uma diferença entre escuridão e trevas. 

Vou remoendo meus medos e avançando entre o povo, forçando caminho, empurrando, me desculpando... 
“Eu quero ver o Mestre, eu preciso...”

Não posso acreditar no que está acontecendo.  
Como pode um filho de Abraão, um descendente de Davi, ser tão vituperado... 

Se não o respeitam, pelo menos deveriam temer tocar  num descendente do ungido do Senhor dos Exércitos... 
 “Com licença, dê passagem...”

Vou subindo o morro, olho para cima querendo enxergar alguma coisa, mas a multidão parece não ter fim, se aglomeram, cerceiam meu campo de visibilidade. 
“Eu quero ver o Mestre, eu preciso...”

Ah, mais acima vejo alguns conhecidos de minha cidade de Jericó, avanço, digo “Olá, me dêm passagem... Preciso chegar lá no alto...”

Eles me olham com estranheza, como se não soubessem que há pouco tempo eu mudei, eu renasci...

“O Mestre, quero ver o Mestre, eu preciso...” -  Eu murmurava, buscando forças para continuar ascendendo em direção ao topo. 

 Agora, já vejo lá ao longe o meu Mestre, mas, ai, meu coração dispara, meus olhos não conseguem mais ver, banhados em lágrimas... Que tristeza!

-- Oh, meu Deus, que heresia... Que sacrilégio...

Avanço cegamente, às esbarradelas...

De repente sou empurrado, caio ao solo, seco meus olhos, ergo-me, coloco-me em pé e vejo que há um cordão de isolamento humano, formado por centuriões, lanças e escudos romanos.

Eu imploro: “Me deixem passar, preciso ver o Mestre...” – As mãos levantadas em concha, como a mendigar uma moeda, como antigamente, quando eu vivia na cegueira.

O soldado xinga, ameaça espetar-me com  a lança. Eu fico ali, sem ação, só implorando: 
“Eu preciso ver o mestre... Eu preciso ir até ele ...”

O soldado se irrita, sinto o gosto de sangue na boca e o frio do aço penetrando minha barriga.

Caio, transpassado, sangrando.

Naquele instante meus conhecidos de Jericó se aproximam, me amparam, me arrastam para trás, me erguem e eu vejo:
Uma cruz enorme, meu Mestre lá, pregado, braços abertos, ensanguentado, lavado no próprio sangue, o rosto caído sobre o peito, na cabeça uma coroa de espinhos e sangue, muito sangue...

Vejo também outras duas cruzes ao lado, mas isto não me importa, o que me dói não é o ferimento que sangra, mas a dor da ingratidão humana, da incompreensão, do poder político comandando o templo e os sacerdotes... 

Não me contenho, enquanto sou sustentado pelos meus conterrâneos, num último esforço, eu grito, a plenos pulmões:
__”Mataram o Cristo, o Salvador! Mataram o Messias enviado por Deus"!

As forças me faltavam e eu sabia que estava mergulhando na escuridão, mas isto já não tem mais importância...

Eu sei que não vou para as trevas, delas eu fui liberto porque eu ouvi o Mestre e ele me ensinou o caminho da salvação. 


(silêncio).

Um dos que me sustentavam murmurou para os outros, cheio de compaixão:
__ Como pode... O soldado matar um pobre cego de Jericó...

Fim



(Na verdade, o que importa é que Jesus, o Cordeiro de Deus imolado na cruz para remissão dos pecados de toda a humanidade, em todos os tempos, RESSUSCITOU ao terceiro dia.
Depois foi elevado aos céus, e por toda a ETERNIDADE vive e reina na glória à direita de Deus Pai, o Grande Eu Sou.  Amém.)  

Autor: Geraldo de Deus Romes



Adendo em 2018juho,06

Quero aqui registrar, para esclarecer a quem não tenha tal conhecimento, que segundo historiadores, o cego de Jericó é descrito como o filho de Timeu, (bart +Timeu) e que teria sido cegado por inimigos de seu pai, quando estes lhe perfuraram os dois olhos com objeto pontudo. Portanto, não era um cego de nascença, mas alguém que na infância teve seus olhos vazados, e que jamais teria oportunidade de recuperação, uma vez que tinha duas órbitas perfuradas, vazias e não olhos cegos.
O milagre de Jesus, ao restaurar sua visão, foi marcante e comprovadamente milagroso, sobrenatural.

E Jesus, parando, disse que o chamassem; e chamaram o cego, dizendo-lhe: Tem bom ânimo; levanta-te, que ele te chama.
E ele, lançando de si a sua capa, levantou-se, e foi ter com Jesus.
E Jesus, falando, disse-lhe: Que queres que te faça? E o cego lhe disse: Mestre, que eu tenha vista.
E Jesus lhe disse: Vai, a tua fé te salvou. E logo viu, e seguiu a Jesus pelo caminho.

Marcos 10:49-52 

Notem que ao ser questionado por Jesus, o cego lhe respondeu: que eu tenha vista. 
Ele não disse algo como "Que eu enxergue, que eu tenha minha vista recuperada".
Ele pediu que Jesus lhe desse algo que ele não tinha: olhos.

Por isto afirmamos, baseado na Palavra do Evangelho: Jesus Cristo cura, liberta, dá livramento, traz renovo de vida.  E ainda tem promessa de Vida Eterna.
Amém.


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