Bem Aventurados os...

 

Mateus 5:1-E Jesus, vendo a multidão, subiu a um monte, e, assentando-se, aproximaram-se dele os seus discípulos;
Mateus 5:2 - E, abrindo a sua boca, os ensinava, dizendo:
Mateus 5:3 - Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus;





Saudações a todos os leitores,


Certo dia, de repente, o Sermão da Montanha, na parte das Bem-Aventuranças gerou em minha mente uma visão, uma rápida visão, e desta visão, com certeza oriunda do Espírito Santo, nasceu um conto, o qual eu escrevi, em 2015. E, posteriormente, publiquei como E-book pela Amazon Kindle, isto foi em 17-06-2016.







Já se passaram sete longos anos desde que eu escrevi a obra, e seis que eu publiquei o  E-book.
Hoje, relendo um exemplar deste livro, Deus tocou em meu coração para disponibilizar todo o conteúdo aqui neste blog, nesta mensagem.


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Louve e exalte o Salvador

Hino 126 da Harpa Cristã
As Bem Aventuranças do crente
Carlos José

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Eis o que o Senhor colocou em meu coração e que transformei em um livro, chamado SEM VOLTA, que nos ensina sobre Livre-Arbítrio e sobre o Caminho Estreito que leva à Salvação da nossa alma:

SEM VOLTA

Capa projetada, mas não utilizada no E-book


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A  FONTE  DA  VIDA

 

 

Mateus 7:

 

13 Entrai pela porta estreita (larga é a porta, e espaçoso, o caminho que conduz para a perdição, e são muitos os que entram por ela),

 

14 porque estreita é a porta, e apertado, o caminho que conduz para a vida, e são poucos os que acertam com ela.

 

15 Acautelai-vos dos falsos profetas, que se vos apresentam disfarçados em ovelhas, mas por dentro são lobos roubadores.

 

 

 

 

(jesuscristoeternomestre@gmail.com.br) 2015 jun

 

 

Página 3

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Prefácio

 

Nascer  e  Morrer é iniciar uma caminhada

 

 

 

 

 Página 4

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Introdução

 

Quando se está numa estrada, muitos se encontram e não se pode diferenciar quais são cordeiros e quais são lobos, pois a estrada pode ser trilhada por qualquer um que queira segui-la. O propósito da caminhada, onde se espera chegar seguindo esta estrada, muitas vezes não está claro nem mesmo no coração dos caminhantes.

Uns sabem onde querem chegar, outros apenas acompanham a multidão.

Tem ainda aqueles que estão ali para tirar vantagens dos que caminham e os que lutam para desviar os caminhantes, tentando impedi-los de alcançar seu justo destino final.

 

Página 5

 

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Arquivo 1 – Os pobres

 

Nesse exato momento, Sett  está ali, temeroso à beira da estrada, meio encolhido atrás de uma grande pedra sob frondosa árvore. Faz algum tempo ele observa os que passam. Viu alguns caminhando em bando, animados, rindo, como se bebessem bebidas fortes, falando coisas repreensíveis, gritando palavrões, enfim, andando sem se preocupar onde ou quando chegar a um destino. Alguns outros ele viu andando solitários, hesitantes, olhando para um lado e para o outro, mas seguindo em frente. Curiosamente, havia os que andavam aos pares, mãos dadas ou abraçados, um sustentando o outro mais fraco. Tinha também os que davam alguns passos para a frente e paravam, iam para um lado da estrada, penetravam no matagal, voltavam à estrada mais a frente, iam para a outra margem e repetiam a ação anterior, parecia que andavam buscando uma saída daquela estrada larga, lisa, forrada com terra amarelada, arenosa e seca.

Sett olhou para o firmamento, viu novamente o céu azul, limpo sem nuvens, sentiu o ar morno, parado sem qualquer aragem.

Então Sett ouviu rumor de choro, virou-se para seu lado esquerdo e viu ao longe duas silhuetas que vinham pela estrada arenosa lentamente, uma mais alta e outra bem menor. Concluiu ser uma mãe e uma criança, provavelmente uma menina de uns oito anos de idade, em prantos. Fixou sua visão, elas se aproximavam e ele permaneceu bem abaixado de forma a não ser visto por elas, mas conseguindo vê-las por entre a vegetação que rodeava a pedra que o ocultava. Viu que não estavam feridas, mas andavam com dificuldade, demonstrando cansaço ou esgotamento. A mãe amparava a garotinha com muita dificuldade.

__Não chore, querida, logo vamos achar ajuda, seja forte...  Não chore, seja forte...

__Eu só quero me deitar e ficar quietinha. - Implorava a criança em meio ao choro sentido.

A mãe insistia em continuar andando, alegando que havia predadores ferozes na mata que rodeava a estrada.

__Não podemos parar, você sabe, eu já te falei o que acontece com os que fraquejam e esmorecem. Temos que alcançar um abrigo antes que chegue o Senhor da escuridão...

A  criança, demonstrando fraqueza, mal se aguentava de pé, só prosseguindo por ser encorajada pela mãe, que praticamente a arrastava sempre em frente.

Sett sentiu ímpetos de juntar-se a elas e ajudá-las, mas não o fez. Temia sair de seu esconderijo, temia a estrada desconhecida. Como pensar em ajudar alguém se não podia ajudar nem a si mesmo? O medo fazia-o tremer e ouvia o próprio coração batendo forte como se fosse estourar sua carcaça. Mesmo assim continuou vigiando a estrada, havia dentro de seu ser, bem lá no fundo, uma intuição que lhe dizia que alguém conhecido passaria por ali, ou quem sabe um policial que o orientasse quanto ao seu destino... Sim, sabia que estava perdido num lugar desconhecido e que o pânico impedia seu raciocínio, apagava suas lembranças, colocava confusão em sua cabeça...

“Ah, raios!” – praguejou resmungando enquanto coçava seus cabelos ralos e brancos.

“Preciso me lembrar, tenho que me lembrar para onde estou indo, para onde me mandaram... Se estou trabalhando, ou apenas passeando... Onde fiquei de encontrar meus filhos... Que confusão, meu cérebro deu um branco. Ficou tenso ao ouvir novos ruídos, passos de muitas pessoas juntas. Firmou a vista à sua esquerda e divisou ao longe as silhuetas de muitas almas que caminhavam lentamente, vinham se aproximando, de forma arrastada e arfavam. Estranhou como se encurvavam, parecendo estar carregando fardos pesados, as mãos acima dos ombros como se segurassem o que carregavam, suavam, faziam esforço, mas Sett  nada viu que pudesse estar pesando sobre eles. Eram muitos, homens e mulheres e algumas crianças já crescidas. Todos caminhando pela estrada, se arrastando sob imenso peso invisível. Sett  ficou curioso, começou a erguer-se para falar com a multidão sofrida, em cujos rostos os olhos pareciam estar distantes ou ausentes, mas desistiu, não lhe importava o que os oprimia, que continuassem seu penoso caminho. Continuou ali, esperando alguma indicação que lhe mostrasse onde ir. Muitos outros grupos de andantes passaram por ali, mas o dia parecia não ter fim, não entardecia, não ventava, não havia ruído de pássaros na árvores em volta, não havia ruído de insetos, não se via uma abelha ou uma borboleta... tudo parado, tudo estático. Só havia a estrada amarela e arenosa penetrando uma paisagem exuberante de verde que mergulhava ao longe no lago azul do céu límpido... e o medo que o prendia àquele esconderijo improvisado: uma pedra rodeada de lobeiras e pés de mamonas, sob centenário ipê amarelo. Então Sett lembrou que havia algumas horas que estava ali e nada comera, nem bebera água. Ainda bem que não estava com fome nem sede, então porque se lembrara disso, se não sentia falta, seria apenas o hábito de comer e beber para saciar o corpo? Bom, se não tinha fome nem sede, podia ficar ali mais algum tempo, nada o levava a seguir a multidão de gente que passara por ali todo o tempo.

Sett  estava intrigado, porque será que todos vinham do seu lado esquerdo e seguiam para a direita? Ninguém viera na direção inversa, ninguém. Todos, individualmente ou em grupo vinham da estrada à sua esquerda e sumiam no horizonte à sua direita. Estariam indo do sul para o norte, ou do leste para o oeste?   Não havia como definir, no céu azul não se enxergava o sol, mais parecia uma luz permanente clareando tudo, sem uma fonte específica. Bem, se iam da esquerda para a direita, então é para onde ele deveria seguir. Alguma coisa havia à sua esquerda que impelia as criaturas a fugir dali, buscando abrigo na direção contrária. O que poderia ser? Ficou remoendo esta questão em sua mente por algum tempo, então resolveu que abordaria algum transeunte, tentaria dialogar, buscar algum esclarecimento. Ergueu-se, ainda atrás da pedra, resolvido a se mostrar a quem viesse em seguida e travar algum diálogo. Esperou ansioso que viesse alguém. Lá, bem ao longe divisou um vulto se aproximando, esperou de pé atrás do tronco da árvore copada. Viu um homem grandalhão, barbudo, que vinha resmungando, meio conversando consigo mesmo, andando devagar. Quando este estava na estrada bem à sua frente, saiu de seu esconderijo lentamente para não o assustar, dizendo:

__ Ei, amigo, posso falar-lhe? – Ergueu a mão direita acenando amistosamente.

O barbudo parou, virou-se para ele com expressão de receio e respondeu ríspido:

__?Que quieres, hombre?

Ele praticamente cuspiu as palavras, entendi “hombre”, então ele falava espanhol...

__Soy amigo...  amigo... bueno amigo, – respondi em sofrido portunhol.

Ele continuou a andar em frente, embora olhando-me ainda com certo temor.

__Adios! – falou rispidamente, como que encerrando nossa breve entrevista. 

__ Então tá... - Murmurei surpreso.

Resolvi que abordaria o próximo e tentaria conversar com ele, até mesmo caminhando ao seu lado se fosse necessário.

O próximo era uma próxima, uma jovem de pele escura e feição sofrida. Ao ser abordada por mim, tentou correr se sentindo ameaçada.

__Espere, por favor, só quero lhe falar... – Eu gritei.

Ela parou a certa distância, quase entrando em pânico e me respondeu:

__ Quer o quê? Quer me roubar? Quer me roubar, quer tirar o pouco que eu tenho? E enquanto falava, apertava ambos os braços contra seu tórax, como se abraçasse algo de muito valor, mas eu nada enxergava.

Falei procurando acalmá-la,

__ Sou de paz, nada quero, somente lhe falar... – Ergui as duas mãos para que ela entendesse que eu não tinha nenhuma arma, nem pau, nem pedra, nada que pudesse feri-la.

__ Não falo com estranhos... Estranhos querem roubar o que temos. Eu conheço gente como você, só quer tirar o pouco que nós pobres temos... – Ela falava e ia se afastando de mim, aumentando a distância entre nós.

__ Espere, só me diga de onde vem, porque está fugindo daquele lado e indo para o outro...

Ela continuava andando, recuando para mais longe de mim, se distanciando, amedrontada, e respondeu-me quase gritando:

__ Eu faço como todos, fujo das trevas que avançam, fujo dos predadores que se escondem nas matas, dos lobos devoradores...  – Como ela continuasse andando, mal entendi suas últimas palavras.

Voltei para meu abrigo embaixo da árvore, pensando “que gente mais louca, falar em fugir das trevas nesse dia tão claro.  Temer predadores neste lugar de tanta quietude e sossego. Assentei-me, repassando os acontecimentos. Só me chateava esse branco em minha mente, que não me permitia raciocinar direito, lembrar das coisas... Lobos, que besteira...

Ergui-me novamente ao ver uma velhinha se aproximando pela estrada. Ela vinha como quem empurra um carrinho de supermercado, com os dois s braços erguidos para a frente e as mãos fechadas, com o corpo semi-arcado, empurrando algo que eu não conseguia ver nem ouvir, e que não deixava rastro na terra da estrada amarela. Aliás, só agora eu notava, não havia nenhum rastro, nenhuma pegada no solo, embora tantos tivessem passado por ali.  Ela vinha distraída, com os olhos distantes, resmungando algo em voz baixa, num longo monólogo, então caminhei silenciosamente até ela e comecei a falar-lhe com naturalidade, como se estivesse junto dela há muito tempo. Eu resolvi que conversaria com ela por algum tempo e depois recuaria para meu esconderijo sob aquela grande árvore.

__Não me ouviu? – Perguntei insistente, olhando-a enquanto caminhava ao seu lado.

__Não, eu estava aqui repassando umas coisas, - sussurrou ela –, sem estranhar-me. O que disse, meu velho?

Estranhei que ela me chamasse “meu velho” como se fosse seu companheiro. Contudo, pensei, ela me confundiu com algum conhecido ou parente, devido à minha idade já avançada e meus ralos cabelos brancos.

__Porque estamos indo por essa estrada, nessa direção? Que tal voltarmos? – Questionei.

A velhinha continuou na mesma posição, se movimentando com esforço, mas com firmeza e determinação, enquanto me respondia com naturalidade:

__Ah, meu velho, que bobagem. Temos que ir em frente, para chegar ao abrigo. Se as trevas nos alcançarem seremos destruídos; foi o que o mensageiro falou, não se lembra?

__Não, não me lembro, me deu um branco...

__Ah, não fique preocupado, é só seguir em frente, sem parar. Ele falou que quando a gente ver as saídas, se a gente quiser, pode tomar a estrada mais estreita, só que ela é mais difícil de levar nossas coisas...

__Porque é mais difícil, como assim? - perguntei interessado.

__Ele falava pra todos que passavam, que a estradinha só faz dar voltas e atrasar para chegar no abrigo. Que a estrada larga é plana, boa de levar o que temos.

_É?

__Você sabe, não posso deixar para trás o pouco que tenho...

 

__O que você tem? – Indaguei.

Ela continuou empurrando o carrinho invisível, mas olhou-me com pena, enquanto falava com voz doce,

__Ah, coitadinho, não está levando nada... Eu me acho bem pobre, mas a maioria dos que estão nesta estrada têm alguma coisa para levar ao abrigo, nem que seja uma coisinha que não podem deixar para trás... – Duas lágrimas rolaram de seus olhos enrugados e opacos, enquanto ela continuava falando-me bondosamente,

__Mas veja você, meu velho, nada tem para levar... Coitado... Está indo para o abrigo sem levar nenhum bem, nenhuma coisa que lhe seja cara... – Olhava-me consternada.

__O mensageiro falou que só levássemos conosco o que fosse muito importante. – Ela insistiu.

__E se você repartisse o que você tem comigo?

Ela mirou-me longamente, enxugou suas lágrimas, parou.  Enfiou uma das mãos dentro do carrinho invisível, remexeu com cuidado, como se separasse coisas grandes e coisas pequenas. Ergueu a mão como se segurasse algo precioso, olhou aquilo demoradamente, coçou a cabeça com a outra mão, olhou-me novamente com muita pena e finalmente resolveu dar-me o que parecia sustentar na mão erguida. Estendeu o braço esquálido em minha direção e falou:

__Toma, meu velho, eu tenho muitas destas imagens de santos, então estou lhe dando esta, que vai proteger você, vai tomar conta de você. Mas cuidado, não deixe cair, senão se quebra e não presta para mais nada.

Eu me afastei dois passos para longe dela, com repugnância.

__Não precisa!  -  Falei, enquanto voltava para meu esconderijo atrás da pedra.

A velhinha se afastou prometendo rezar por mim diante de suas imagens de santos de diversos tamanhos. Foi-se estrada afora empurrando seu carrinho imaginário que levava o que parecia ter de mais precioso em sua existência.

Estive bem uns vinte minutos, calculei, assentado repassando os fatos, encaixando as peças daquele esquisito quebra-cabeça que se tornou este dia azulado. Quando dei por mim, vi dois homens do meu lado. Decerto vieram pela estrada e eu estava tão distraído com meus pensamentos que nem observei se aproximarem de mim. Um era bem moreno, atarracado, encorpado, cabeça quase raspada, lábios grossos, sorriso branco. O outro mais velho, quase careca, barba rala cor de cobre, rosto sisudo. Um sorria, o outro estava sério...

__Vamos, velho, quer ajuda? Porque não está caminhando? Não pode ficar parado, tem que caminhar, o tempo é curto, o abrigo é distante. - Falou o de cara fechada.

O outro me estendeu a mão direita enquanto continuava a sorrir.

Peguei em sua mão e fiquei de pé.

Os dois voltaram para a estrada, eu os segui amistosamente. Então lhes perguntei,

__Quanto tempo caminhando para alcançar o abrigo?

O sorridente respondeu sem deixar de sorrir,

__ Depende de alguns fatores, tais como velocidade, força, persistência...

__ Como assim, - Perguntei, - não é a mesma distância?

O de barba ruiva respondeu, com muita autoridade:

__ A velocidade muda conforme a força daquele que caminha e do peso que ele leva. Cada um tem uma força , mas também um fardo para levar. Isso pode atrasar a caminhada.

__ Mas então basta deixar o fardo e a caminhada fica mais fácil... – Falei.

O moreno sorridente meneou a cabeça, olhou para o ruivo e, demonstrando certa compaixão por  minha ignorância, retrucou,

__Nós somos pobres, temos tão pouco, acha justo deixar para trás o pouco que temos? Onde a gente for, vamos levar o pouco que temos. Antes conservar o pouco que ficar sem nada.

Eu não entendi, eles não estavam com nada nas mãos. Então, para minha surpresa, o ruivo me pediu,

__Pode nos ajudar a empurrar nossa carroça?  - E ambos tomaram suas posições, um à frente como segurando uma alça ou varal e o outro atrás, como que empurrando uma pesada carroça.

Fiz mais uma pergunta,

__Tem algum atalho? Ou só esta estrada?

O ruivo me respondeu, com má vontade,

 __Quem quer saber? Basta esta estrada, é reta, plana, tem lagos em alguns pontos, tem frutas nas árvores em volta... Não tem pedras nem buracos. É uma boa estrada.

O do sorriso parou de sorrir e disse em voz baixa,

__Tem uma estradinha pedregosa, esburacada, íngreme e estreita que passa do lado desta estrada, sendo que há saídas que levam até ela, mas não serve para quem quer a comodidade possível, a facilidade possível.  Não basta ser pobre e ter que ir a  pé até o abrigo carregando os próprios pertences? Quem quer uma estrada ainda mais difícil?  Besteira!

Vendo que eu não estava disposto a seguir com eles, recomeçaram a caminhada em direção ao abrigo, conduzindo  algum tipo de carroça invisível que um puxava e o outro empurrava.  

O moreno gritou-me sorridente,

__Dizem que em algum ponto desta estrada tem mulheres fáceis, aflitas por caras machos como nós... Eu vou chegar na sua frente...

Fiquei ali, estático, ainda mais confuso, embora as peças do quebra-cabeça estivessem se ajustando aos poucos. “Então tem outra estrada, mas parece que os pobres gostam desta porque facilita levar seus parcos pertences, os quais eles se recusam a abandonar, e oferece certas comodidades como água e alimentos gratuitos.  À primeira vista, parece um padrão aceitável para a grande maioria, ou será que esta estrada conseguiu a unanimidade dos que buscam o tal abrigo? E porque eu não gosto desta estrada, porque eu temo seguir por ela? É uma sensação inexplicável, coloco-me a caminhar nela e meus pés parecem queimar. Então, aqui estou, sob este ipê, remoendo dúvidas. O que fazer?

Veio então pela estrada um casal de velhinhos com roupas rotas, sandálias de dedo, desgastadas...‘”A cara da pobreza”, como se diz. Eles andavam com os braços abaixados, corpo quase ereto, apesar da idade. Nada levavam pelo jeito. Abordei-os,

__ Olá, aonde vão?

Sem parar, respondeu-me o velhinho,

__ Ao abrigo, meu amigo.  Quer vir conosco?

__Por esta estrada que queima os pés? Não. Vou mas é pela outra estradinha, que é pedregosa e íngreme, mas que não deve queimar os pés.

O velhinho falou para a companheira, ainda andando no mesmo passinho,

__ Tá bom, minha velha, talvez seja um sinal. Vamos pela estrada pedregosa como você estava querendo. Meus pés estão me incomodando também.

E seguiram em frente, sem dar-me maior atenção.

 

 

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Arquivo 2 – Os que choram

 

 Não demorou muito e aproximou-se de Sett um grupo de pessoas que faziam ruído de soluços. Eram muitas, um grande grupo, difícil de precisar quantos, formado por homens, mulheres, crianças, de diversas idades, de diversas raças. Vinham bem vestidos, limpos, mas andavam hesitantes, parando aqui e ali, entre prantos e lamentos. Quando estavam ao alcance de minha voz, tentei me comunicar:

__Bom dia, olá, boa tarde pessoal... – Falei em  tom firme mas suave

O grupo continuou avançando, me ignorando. Apenas um jovem imberbe se afastou deles e veio até perto de mim. Ele não chorava, mas tinha os olhos vermelhos e inchados. Respondeu-me polidamente,

__ Oi, precisa de algo? Não deixe a tristeza desanimar você, não pare de caminhar, mesmo chorando, prossiga sem vacilar...

Eu respondi com outro questionamento:

__ Qual é o motivo de tanto choro e lamentação? É algum funeral?

Ele me respondeu, com os olhos lacrimejantes,

__Viemos de alguns, sim senhor! Outros não sabem de seus entes queridos, que desapareceram sem dar notícias, outros ainda estão a caminho da cova, por estarem com doenças incuráveis... É uma lástima total...

__ Que coisa triste, - disse a ele sentindo a tristeza que carregavam me espetar -, mas com certeza no abrigo conseguirão ajuda, auxílio, não é?

__Temos esperança, senhor, dizem que lá há um consolador. Temos esperança, embora cada um de nós carregue a alma amargurada, somos escravos da tristeza que engessa a vontade, que quebra a força interior. Sem ajuda de um consolador de poder, pereceremos de tanta amargura... - Disse e pôs-se a chorar convulsivamente.

__Gostaria de poder consolar vocês...  – Comecei a dizer, sem saber como ajudá-los.

Ouvindo isso, pararam e ficaram me olhando, esperando que eu fizesse algo para minorar ou eliminar suas dores espirituais. Mas quem sou eu para curar almas feridas? Não tenho este poder.

__Não sei o que lhes dizer... – Comecei a falar hesitante – Eu sabia como achar ajuda, como encontrar o Consolador, mas deu um branco em minha mente, já não sei de mais nada, está tudo confuso. Tudo confuso, nem sei como cheguei aqui.

Eles então recomeçaram a chorar, ainda mais amarguradamente.

Sem saber bem o que dizer  resmunguei,

--Tem outra estrada, talvez lá encontrem o consolador...

Um ancião, que também chorava muito, retrucou com rispidez,

__Deixe a gente com as nossas tristezas, elas nos dão força para continuar até encontrar o abrigo e o Consolador... Tem essa estória de outra estrada, mas eu prefiro essa mais larga e mais plana.

Uma senhora de meia idade retrucou meio falando, meio chorando:

__Eu discordo, na próxima saída vou seguir aquela estradinha, talvez nela eu encontre algum mensageiro, ou mesmo o próprio Consolador.

Então, seguiram adiante, chorando, lamentando e agora discutindo, sendo que alguns estavam firmes na ideia de seguir a estrada larga e plana, enquanto outros, tocados pelas minhas palavras, resolviam seguir a estrada pedregosa e íngreme... Será que eu fiz mal em dizer isso? Eu nem conhecia a estrada e já estava mandando gente seguir por ela.  É correto fazer isso? Definitivamente não. Se pretendo ajudar as pessoas, devo conhecer o caminho antes de enviar gente para segui-lo. Vou ter que tomar a estrada, avançar, encontrar a primeira saída e caminhar pela estradinha para conhecê-la e até mesmo ajudar aqueles que forem por ela mandados por mim se correrem perigo. Fiquei ali, indeciso, mas sabendo que havia uma atitude a tomar.


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Arquivo 3 – Os mansos

 

Três silhuetas vinham agora em direção a Sett, então ele se preparou para abordá-los com naturalidade. Estava ficando bom em se comunicar com os passantes, já conseguia dialogar sem assustá-los, embora estivesse cada vez mais surpreso com as atitudes deles, cada uma diferente da outra. Não foi preciso se dirigir aos que vinham, estes foram até onde ele estava assentado e falaram-lhe gentilmente, com atenção, como querendo ser úteis.  O primeiro a falar foi um jovem louro, de barba rala e rosto simpático:

__Oi vovô, precisa de algo? Temos um pouco de água, se estiver com sede podemos ceder-lhe um pouco.

Sett olhou o grupo, nada tinham nas mãos, mas acreditavam estar carregando água, de alguma forma.

Os outros dois, um rapaz claro de cabelos castanhos e uma mocinha com seus cerca de quinze anos de idade, que sorriam brandamente, se acercaram dele.

__Estou bem, obrigado. Nem tenho sede, nem fome... Não estou cansado, mesmo estando  aqui faz um tempão, sem me decidir se sigo em frente ou fico aqui mesmo. – Falou retribuindo o sorriso amistoso.

A mocinha se pronunciou com voz macia,

__Senhor, não deve se atrasar, tem que alcançar o abrigo enquanto não chega  o dominador das trevas. Vai ser terrível para quem ainda estiver desabrigado!  –  Seu rosto bonito  demonstrava receio.

O outro assentiu e reforçou o argumento,

__Sim senhor, não pode se atrasar, vamos, nós o ajudaremos a caminhar, pode se apoiar um pouco em cada um de nós e todos chegaremos bem ao nosso destino.

Perguntei, de chofre:

__Me ajudariam indo pela estradinha estreita?

A mocinha fez uma careta, o rapaz claro estremeceu e o outro falou após olhá-los rapidamente,

__Se for sua vontade, eu saio da estrada larga e o ajudo a caminhar pela estreita, embora digam que é cansativo, por ser esburacada, íngreme e forrada de pedras pontiagudas... –  Ele falava com sinceridade e já foi me pegando pelo braço para me auxiliar.

Os outros dois olharam-se e anuíram:

__Nós também vamos para ajudar.

Afastei o louro com um gesto suave e falei decidido,

__Obrigado, meus queridos, mas eu não preciso de ajuda, deve ter outros que necessitam mais de boas almas do que eu. Eu só preciso me decidir e minhas pernas me levarão com tranquilidade. Verdade, sou-lhes muito grato mas tem quem precise mais de auxilio do que eu.

Os três sorriram e se despediram com gestos, retomando sua caminhada. Eu falei alto, para me ouvirem:

__ Passou por aqui um casal de idosos, creio que precisam de seu auxílio... Eles foram pela estrada pedregosa!

Eles se voltaram para mim e a mocinha perguntou,

__ Tem certeza que eles foram pela estrada estreita?

__ Tenho sim, - respondi – vão tomar a próxima saída que acessa a estradinha, foi o que falaram.

__ Está bem, iremos atrás deles e os ajudaremos com prazer! – Gritou o louro, retomando seu caminho seguido pelos outros dois.

Nossa, pensei, mandei mais um grupo para a estradinha.  E se houver lobos à espreita, e se houver malfeitores que os ataquem? Eu serei culpado pelo que acontecer a estas pessoas, oh, meu Deus...

Sett  ficou realmente preocupado, apreensivo, temendo estar mandando inocentes para a morte.

“Tenho que me decidir e tomar esta estradinha. Se for preciso me sacrifico para ajudar aqueles que eu mandei por este caminho. Tenho que fazer algo...” – Ficava a cismar, mas sem se decidir.

Outro grupo veio chegando até ele. Muitos homens e mulheres, já maduros acompanhados por muitas crianças de diversos tamanhos e idades. Pararam à sua frente e um ancião com óculos de aro de tartaruga perguntou-lhe, sorrindo:

__Amigo, por acaso viu passar por aqui um trio de jovens, dois rapazes e uma moça?

Perguntei,

__Porque quer saber?

Ele sorriu amistosamente. Uma das crianças falou,

__A mocinha é minha irmã, meu pai está procurando por ela.

Ah então é isso, são familiares dos jovens, me tranquilizei.

__Disseram que tomariam a estrada estreita logo à frente, para auxiliar um casal de idosos...

O de óculos de tartaruga sorriu com gosto, dizendo:

__É mesmo coisa daqueles jovens ajudar as pessoas. Vamos também pela estradinha estreita para os ajudar se houver precisão. Até mais.

Acenou. Os outros também acenaram amistosamente e seguiram em frente, falando da importância em ajudar ao próximo.

Então Sett ficou ainda mais apreensivo por ter desviado mais um grupo, agora numeroso, mandando-os para aquele caminho difícil e pedregoso, sabe-se lá cheio de quais perigos...

 

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Arquivo  4 – Os famintos

 

Não durou muito sua solidão, grande multidão barulhenta surgiu no horizonte à esquerda. Murmuravam alto, praguejavam, diziam todo tipo de palavrões, com voz alterada. Parecia que brigavam ou se preparavam para uma revolução. Vinham apressados. Sett  temeu e tratou de se esconder atrás da pedra, em meio à vegetação. Podiam ser perigosos. De seu esconderijo ouviu frases entrecortadas por imprecações: ”Temos que achar comida, precisamos... Estou com muita fome, muita fome... Eu podia comer até um camelo... O que eu não daria por um pão bem grande... Olhaí, mais uma árvore inútil, só tem flor, nada de frutos, quem vai comer flor?... Quanto mais a gente come mais tem fome...”

Sett  ficou bem encolhido enquanto a multidão de esfomeados passava pela estrada sem se deter. Tinha todo tipo de criatura ali, homens, mulheres e crianças de todas as idades, de todas as raças, todos ligados pela fome, pela busca de alimento. Sett soube pelas frases soltas que conseguia entender em meio ao rumor da multidão que eles comiam tudo o que achavam, porém a fome deles aumentava cada vez mais. Nada os saciava. Era uma imensidão de seres famintos. O grupo levou bem mais que uma hora para passar por onde Sett  estava. Por acaso um deles mancava bastante da perna esquerda e resolveu se abrigar para descansar na sombra do ipê onde ele estava oculto atrás da pedra. O coxo ficou ali, a murmurar:

__Ai, que fome, mas não consigo seguir esse grupo, eles vão muito rápido e meu joelho está doendo, doendo muito. Não sei o que é pior, a dor no joelho ou a fome que rói meu estômago... – Enquanto resmungava, apanhava punhados de mato e tentava mastigar, mas cuspia em seguida xingando.

Um outro esfomeado olhou para de lado  e o viu. Logo deixou o grupo e veio até ele, esbravejando:

__O que está comendo? Me dá um pouco, mano! Tá tirando seu mano aqui, é? Eu te dei um pedaço de melancia lá atrás, agora me passa um pouco do que está comendo aí; é pão? Achou alguma fruta? – Agarrou a mão do manco e praguejou ao ver que ele estava tentando comer capim e folhas.

O coxo, sarcástico retrucou:

__Pode se servir, mano...

O outro ficou bravo, praguejou e falou:

__Que fome, cara. Estou comendo, comendo, mas a fome me devora por dentro, o que vou fazer?

O coxo tentou acalmá-lo:

__Lá no abrigo tem churrasco, mano. Churrasco vinte e quatro horas por dia, a semana inteira, o mês todo, todos os anos. Vamo aguentar até chegar lá, aí a gente vê quem pode mais, o churrascão ou a fome...

__ É, tá certo, acho que até chegar lá vamo tê que engoli é capim mermo, mano!

O coxo retrucou,

__Bobagem, mano.  Mais pra frente disseram que tem muita goiaba madurinha.

O outro, ajudando o coxo a se erguer, falou rindo:

__Se tiver bichado, melhor. A gente come carne junto, rárárá...

Sett  se ergueu e se apresentou a eles,

__Oi, não sou ninguém, apenas mais um perdido que descansava atrás dessa pedra. Não pude deixar de ouvir o que falavam...

Os dois olharam-no desconfiado, pularam sobre ele, o agarraram e exigiram ameaçadores:

__Dá pra gente a sua comida, vai! Dá tudo agora, senão vamo estragá a sua fachada!

Sett  ergueu os braços num sinal de paz e falou também com rispidez:

__Nada tenho. Não tenho comida, se tivesse dava tudo para vocês, não precisa de violência!

O coxo ergueu o punho, ameaçador:

__Tá escondendo rango, mano? Cê num conhece nóis não. Nóis semo de paiz, mais a fome tá fazendo a gente ficar violento. A fome é braba, mano. Dá logo alguma coisa pra gente comer!

O outro olhava em volta e falou para o coxo, puxando-o para a estrada:

__Vamo simbora, o véio aí num tem nada não. Ele é dos que num tem fome. Vamo em frente.

O coxo o seguiu e resmungou como despedida:

__Adeus, vovô... Cê num sabe o que é dor de fome!

Sett deixou-se cair assentado, escorregando as costas no tronco grosso do ipê. Estava assustado, mas guardou em sua mente mais uma pecinha do quebra-cabeça recordando a frase do esfomeado: “Ele é dos que não têm fome”. Isso significava que os famintos nunca abandonariam a estrada larga, porque somente ali havia alimentos a serem colhidos pelos caminhantes. Menos mal, estes ele não induziria a se desviar da estrada larga em direção à estrada estreita onde podia haver tantos perigos. Mas, ficava abismado ao imaginar como era grande a multidão dos esfomeados. Teve pena deles.

 

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Arquivo 5 – Os misericordiosos

 

 Houve breve clarão riscando o céu, como se um raio cavalgasse pelo infinito azul, mas Sett  não ouviu barulho de trovão, nada, som nenhum. Firmou sua atenção esperando o ribombar característico, entretanto o que ouviu foram vozes entoando  louvores, hinos de adoração ao Criador. Quase um murmúrio distante que foi crescendo, crescendo, até se tornar um harmonioso som de coral. Cantores e cantoras, aos milhares, a perder de vista, entoando hinos de adoração ao Salvador, ao filho unigênito de Deus. Quando Sett foi envolvido pela melodia que avançava à frente do grupo, sensações inexprimíveis o dominaram: alegria, felicidade, júbilo, excitação... E lágrimas que verteu em convulsões.  Os cantores e os músicos, pois muitos movimentavam os braços ou a boca como se tocassem instrumentos invisíveis aos olhos de Sett, mas que propagavam sons consonantes com as melodias entoadas. Ele não resistiu, saiu de seu lugar e foi-se misturando ao grupo, caminhando junto com eles, embevecido, dominado pela excelência dos acordes entoados, dos refrões cantados por tantos milhares de vozes. Continuava em frente, dominado pela sensação de felicidade sublime que fazia vibrar cada molécula de sua alma, uma alegria tão colossalmente grande o subjugava ao riso, ao pranto e a abrir a boca e soltar sua voz rouca. E caminhava levado pelos que o rodeavam. Era uma tempestade de louvor inimaginável. Irresistível. Sua mente foi tomada pela canção entoada: “Louvor ao Messias

Cristo, meu Senhor/Sabes que dependo do teu amor./Eu clamei e

me ouviste./eu chamei por ti e vieste a mim./ Então contemplei teus

olhos,/ Primeiro olhos de Cordeiro,/ em seguida olhos de Leão:/

Minh'alma mergulhou na tua salvação.///Independentemente/ Se me

atendes ou não,/ És minha fortaleza,/ És minha rocha inabalável./ A

ti, Salvador, Pastor Celestial,/ Consagro por inteiro meu humilde

coração./// Sei que breve voltarás,/ sei que breve chegarás.../ Ouço

trombetas...///".

 Sett  cantava e cantava, pulava, seguia o ritmo contagiante do imenso coral. Quando deu por si, estava numa estradinha esburacada, pedregosa, muito íngreme exigindo esforço tanto nas subidas quanto nas descidas. Era ladeada por barrancos ou rochedos colossais de um lado,  e abismos profundos do outro. Ele despertou do transe musical quando o grupo parou de cantar e tocar para se concentrar na caminhada difícil. Sett  se sentiu um idiota. Como viera para ali?  Foi acompanhando a multidão de cantores enfeitiçado pelo ritmo e pelos acordes, de olhos fechados, sentindo-se flutuar e de repente, ali estava, em meio a pedregais.  Olhou para o lado, viu um moço de alegres feições e questionou-o:

__Ei, porque viemos para esta estradinha tão simplória, esquecida pelos construtores, abandonada ao Deus dará?

O moço, com um sorriso complacente, lhe respondeu com um versinho cantarolado baixinho:

__Os que confiam no Senhor/ são como os montes de Sião/ que não se abalam,/  mas permanecem para sempre///”.  - E continuou, agora falando –

__ Seguimos o Levita Mor, ele sabe o caminho para o abrigo. Onde ele for, nós vamos.

Sett  estava deveras aborrecido, pois as pedras do solo machucavam seus pés mesmo estando calçado com sapatos de sola grossa. Além disso, nas subidas tinha que ir agarrando-se à vegetação dos barrancos, temendo escorregar e despencar no abismo ali pertinho. Em certos trechos a estrada se estreitava tanto que mal passava um de cada vez, então a marcha ficava bem lenta.  Para  avançar com dificuldade precisava de muita persistência.

Todos tinham que agir da mesma forma, e na descida era ainda pior, pois as pedras soltas punham em risco os que teimavam em se sustentar eretos sem segurar em algo. O medo era grande, mas mesmo assim, a todo custo,  todos seguiam adiante.

Sett quis voltar, mas não tinha como. A multidão o empurrava sempre para a frente, não havia como recuar, atrás dele vinham milhares e milhares. O jeito foi seguir em frente, apesar da dificuldade crescente. Ele foi obrigado a avançar, decidido a voltar para a estrada amarela, tão plana, no primeiro desvio que surgisse.

 

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Arquivo 6 – Os limpos

 

 Para facilitar a jornada pela estradinha estreita, deram-se as mãos, fazendo uma imensa corrente, que prosseguia com cada um ajudando o outro. Esta ação possibilitou que passassem pelos trechos  mais acidentados.  Mais adiante a estrada se alargou um pouco, o grupo continuou avançando, agora mais rapidamente e, sentindo seus corações se alegrarem, recomeçaram a entoar melodias de louvor. Novamente Sett  se viu tomado pela sensação de felicidade plena, de êxtase. Ouvindo os louvores ele avançava junto da multidão sem sentir as pedras sob os pés, sem sentir subidas ou descidas. Nenhum cansaço conseguia se chegar a  ele, estava enlevado.

No entanto, agora Sett  avançava olhando para os lados da estradinha, buscando uma saída que o levasse de volta à estrada larga, porque temia que mais adiante a estrada piorasse. Muito tempo depois ele viu uma ravina à esquerda, que descia como rampa cortando o matagal. Embrenhou por ali procurando não ser notado, andou o mais rápido que pode, deu um trote, tropeçou e caiu. Atrás dele, uma voz feminina falou-lhe alarmada:

__Machucou-se, meu velho?

Ora, que coisa, estão achando que eu sou um velhinho aleijado? Ainda sou bem vigoroso, - pensava.

__Quer ajuda? Deixe-me ajudá-lo a voltar para a estrada, para junto do grupo... – Continuava ela, agora com uma expressão maternal, embora fosse bem jovem, estendendo-lhe as mãos.

Sett  resolveu ser ríspido para se livrar da jovem cheia de boas intenções,

__Estou bem, me deixe! Quero ficar sozinho, me deixe! – Resmungou bravo.

A moça estranhou, recuou, dizendo:

__Desculpe, só quis ajudar. De qualquer forma, cuidado, não volte para a estrada amarela, o Levita Mor advertiu que ela leva à perdição.

Foi subindo a rampa de volta e repetiu com ar profético:

__Se voltar para a estrada amarela, talvez não tenha ajuda de novo para mudar o rumo errado de seu trajeto. Vai para a perdição!

Sett  guardou cada palavra que a moça lhe falara, mas não lhe deu crédito. “Bobagem, a outra estrada é melhor, mais cômoda e sendo mais reta e plana, mais rapidamente eu chego ao tal abrigo” – raciocinava ele com seus pensamentos desencontrados de quem perdeu a memória e os valores.

 Levantou-se, olhou para sua calça e viu que não estava suja, continuava tão limpa como quando estava embaixo do ipê. Continuou a descida em direção à estrada amarela, pela ravina estreita. Algum tempo depois encontrou-se com uma criança de no máximo cinco anos de idade, muito bela, cor morena, cabelos crespos, olhos perscrutadores. A criança vinha na direção contrária, como se quisesse acessar a estradinha estreita. Sett  ficou olhando, esperando que algum adulto estivesse conduzindo-a, mas a criança passou por ele e seguiu em frente, sozinha. Achou aquilo preocupante. Como pode uma criancinha sozinha, perdida no meio do nada? Correu-lhe ao encalço chamando-a:

__Ei, pequenino, ei, espere um pouco, precisa de ajuda?

O garotinho parou, olhou para ele e respondeu inocentemente:

__Ali em frente não está a estrada estreita? É para lá que tenho de ir.

__Mas, assim, sozinho, sem ninguém para protegê-lo?

__Se o senhor está saindo da estradinha para voltar à estrada larga, quem precisa de ajuda não sou eu...- Dizendo isso, o guri correu, subiu a rampa e seguiu pela estrada estreita, confiantemente.

Sett  balançou a cabeça, sem entender bem a situação, só que novamente guardou bem as palavras da criança. Pesou a situação: em poucos minutos após ter saído da estradinha, duas criaturas puras de Deus haviam repreendido-o, aconselhando a não voltar para a estrada amarela. Hesitou, pensou e decidiu teimar na direção da estrada larga. Seguiu seu caminho, sabendo que em pouco tempo alcançaria a estrada amarela. Passando algumas curvas da ravina, viu-se à beira de um precipício não muito largo, sobre o qual um tronco meio apodrecido fazia as vezes de ponte.

“E agora?” - pensou. “Passo ou não passo?” -  Olhou para baixo atemorizado, era muito profundo, forrado de pedras negras embaixo.  Cansado, Sett  assentou-se ali, à beira do precipício, sem coragem de seguir em frente nem com vontade de voltar à estrada estreita. Então, viu muitas silhuetas chegando junto ao abismo, do outro lado da ponte improvisada. Eram de todas as idades, de todas as raças, mas todos vestiam cores claras ou mesmo brancas. Sem titubear, foram caminhando sobre o tronco, não demonstrando qualquer receio. Um por um, como em fila indiana, foram avançando sem medo. O que vinha à frente, um mulato encorpado, sentou-se ao seu lado, enquanto os outros vinham passando e seguindo ravina acima, buscando alcançar a estradinha estreita. Ele olhou-me longamente e falou com bondade:

__Irmão, está perdido? Custou-lhe muito esforço caminhar sobre esta ponte improvisada e agora, cansado está recuperando suas forças para subir a ravina? Se precisar eu o ajudo, não tem problema.

Sett  entendeu, nem sequer passava pela cabeça daquele líder que alguém pudesse fazer o trajeto inverso.

__Agradeço, mas vou ficar por aqui um pouco mais. – Respondeu Sett, cabisbaixo.

O outro pareceu entender, porque suas feições mudaram, e demonstrava surpresa ao falar:

__Não. Não posso crer que o irmão está pretendendo se desviar para a estrada da perdição...

Sett  olhou-o inquisidor e retrucou,

__Trilhei a estrada estreita e não gostei do que vi. É muito desgastante. Se ambas levam ao abrigo, prefiro correr os perigos da estrada larga e plana.

O outro o olhou com compaixão, levantou-se e se dispôs a juntar-se aos seus, que ainda atravessavam, um  a um a ponte improvisada. Então falou, como se despedindo,

__Irmão, não imagina o problema que tá arrumando para a sua existência, mas vá lá... Cada um acha que pode escolher seu próprio caminho... – e foi-se.

Por algumas horas continuou a passar o cortejo de seres limpos e alvos que seguiam em direção à estrada estreita.

Sett quis falar a alguns deles, alertando-os para as dificuldades que iriam encontrar, mas o ignoravam  e olhavam com dó ou desprezo para ele.

 

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Arquivo 7 – Os pacificadores

 

 Sett ficou remoendo os últimos acontecimentos, foi ajuntando as frases soltas que ouvira dos interlocutores  e entendeu que todas as forças que agiam ali eram contrarias à sua decisão de voltar para a estrada amarela. Todos pareciam fugir dela, dizendo que ela levava à perdição. Bem, perdição pode ser porque tem feras nas matas em volta dela, pode ser porque tenha salteadores que ataquem os que passam, pode ser ainda pelo fato dos pés ficarem ardendo, quase em chama quando se caminha sobre ela. Pode ser tanta coisa, pensava ele, mas parecia valer a pena enfrentar tudo isso, afinal, diziam que nas margens da estrada larga e plana havia frutas deliciosas, lagos de águas onde se podia até mesmo nadar. Falavam ainda que era bem mais curta que a outra. Então, era pura burrice teimar em seguir pela estrada estreita. A estrada larga era bem mais agradável, mais cômoda.

Sett  ficou ali, remoendo seus pensamentos, cismando se ia ou não ia passar sobre a ponte improvisada, tão estreita e tão perigosa.

Repentinamente, do outro lado aglomerou-se uma multidão de almas indecisas. Ele podia escutar quando discutiam entre si, se deviam ou não  deixar o pouco que possuíam e atravessar para a estrada estreita sem nada levar, abandonando de vez suas posses. Uns eram a favor, outros muitos eram contra. Travou-se demorada discussão e um impasse. Alguns deles viram Sett  do outro lado, olhando-os curioso e vieram até ele, buscando um juiz para sua causa.

__Mestre, - disse um deles de meia idade - nos ajude nessa decisão, por favor.

Outro, um pouco mais idoso, meio vesgo, continuou,

__Precisamos que nos dê um veredito, o que acha?

Os outros ficaram ali, resmungando coisas ininteligíveis, mas que pareciam esperar de Sett uma solução.  Então lhes falou,

__Quem são todos vocês? São milhares em discussão e querem que eu seja o juiz de suas questões?

O que falara primeiro, disse:

__É apenas uma questão, uma só dúvida paira sobre todos nós, todos.

O vesgo assentiu com a cabeça.

Um outro, baixinho e gordo, completou:

__Somos todos pobres, somos pobres sim, mas temos ainda um pouco de nossas posses conosco. - Disse apontando o vazio do outro lado, onde Sett  via apenas uma multidão, mas nada de valor material, nenhuma mercadoria, coisa nenhuma.

__E qual seria a questão? – Perguntou Sett, não por se achar capaz de ajuizar qualquer causa, mas por pura curiosidade.

__Mestre,  - falou o vesgo, que parecia liderar os outros-  um poderoso mensageiro nos mandou entrar por este desvio, sair da estrada amarela e chegar até a estrada estreita, para nos livrarmos da perdição do Senhor das Trevas, mas a gente não sabia que tinha que abandonar todas as posses para alcançá-la.

__E então? - Questionei.

__A questão, é, vale a pena deixar tudo o que possuímos de mais caro para tomar a estrada estreita que nos levará para a salvação?

Sett  ficou surpreso ao ouvir aquela palavra “salvação”. Sentiu-se comovido, suas moléculas vibraram como quando ouvia e entoava louvores ao Criador.

Então fez ainda mais uma pergunta ao pequeno grupo que o rodeava e que pareciam ser os líderes de milhares e milhares que os seguiam:

__Porque me chamam Mestre?

__O mensageiro nos falou que quando chegássemos aqui, caso hesitássemos, não deveríamos voltar sem antes consultar o Mestre que aqui estaria nos esperando. – Falaram todos ao mesmo tempo.

Sett sentiu que alguém esperava dele mais que pudera imaginar, alguém confiava nele mais que ele mesmo. Então, fechou seus olhos, elevou seus pensamentos em busca de resposta divina, queria alcançar as esferas superiores, ligar sua mente na do Todo Poderoso.

 Ajoelhou-se. Os que o rodeavam fizeram o mesmo e puseram-se a orar, buscando a resposta do Criador.

Sett  ficou ali bem uns vinte minutos, em oração. Eles faziam o mesmo.

Sett  levantou-se, eles o acompanharam, fitando-o esperançosos, cheios de fé naquele mestre.

__ E então? – Perguntaram ansiosos, numa só voz.

Sett  sentiu o peso da responsabilidade. Olhou-os nos olhos e falou com autoridade:

__Eu orei, vocês oraram. O mesmo Deus que eu sirvo, vocês servem, então, se são dignos de ouvir a voz do Mestre Eterno, sigam o que lhes diz seus corações. Mas sejam obedientes e não errem!

Eles ficaram meio surpresos, olharam uns para os outros, então, exultaram num só grito de alegria.

__Isso! Vamos em frente!

Fizeram gestos para os que aguardavam do outro lado e gritavam:

__Venham, deixem as quinquilharias  para trás, no abrigo teremos coisas muito melhores! Venham!

Os  outros vieram, um por um passando sobre o tronco meio apodrecido, mas antes de subirem nele, faziam gestos como se jogassem coisas no fundo do abismo. Vinham com largos sorrisos, convictos que estavam na direção certa, fazendo a coisa certa. Abandonavam suas posses e vinham, de mão limpas por sobre o tronco, tomavam o rumo da ravina e seguiam para a estrada pedregosa e estreita.

Sett  pensava em silêncio, “Até quando durará este sorriso de triunfo? Até onde persistirão pela estrada estreita até que anseiem voltar para a estrada larga? Até quando a voz de Deus em seus corações será mais forte que a fraqueza de suas forças?” A todos ele sorria, como que aprovando o que estavam fazendo. A multidão era tão grande que ele se cansou de sorrir, assentou-se e ficou novamente remoendo seus pensamentos, enquanto uma multidão exultante passava e o cumprimentava. Agradeciam-no  pela tomada de decisão.


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Arquivo 8 – Os injustiçados

 

 Porém, grande grupo ficou parado, assentado, murmurando, praguejando. Não achavam justo abrir mão de suas poucas posses. E se no abrigo não achassem lugar ou alimento, ou ainda água? Resmungavam. Assim, uns vinham e outros iam ficando, se sentando onde achavam espaço, abraçando algo como que uma mala ou caixas que Sett não enxergava. O último a atravessar, após um tempo de hesitação, meio cabisbaixo, foi abordado por ele.

__O que está acontecendo com aquela grande multidão, que fica ali parada, sem resolver ir em frente?

O último a atravessar falou, meio receoso,

__Eles dizem que não è justo ter que deixar tudo de valor que eles têm para poder ir até o abrigo. Eles querem falar com um mensageiro para discutir seus direitos.

__Ah, entendi, eles querem justiça... – Falei meio sem saber o que dizer.

O último a atravessar seguiu em frente em silêncio. Parecia meio desanimado, mas foi em frente.

Ficou ali o abismo com a ponte improvisada, tendo de um lado um velho de cabelos brancos que ansiava por atravessar de volta para a estrada amarela, por achar que ela era mais confortável; e do outro milhares de seres murmuradores, que esbravejavam, ameaçavam, xingavam.  Alguns até diziam coisas como “Ah, deixa eu por minhas mãos num desses mensageiros, quem eles pensam que são?”  ou “Como pode alguém impor suas normas sobre todas as criaturas? Isso não é justo”, ou ainda “Quem esse criadorzinho pensa que é? Eu quero mais é peitar ele”... e coisas do tipo.

 Tempos e tempos depois, (não se podia precisar horas ou minutos, pois a claridade do dia era a mesma e não havia sol ou lua no céu) aquelas criaturas que se diziam injustiçadas foram retornando em direção à estrada larga, cada qual abraçando suas posses, as quais não aceitavam deixar de modo algum. Até que o último se foi e Sett ficou ali, novamente só, mas cercado de dúvidas. Voltava para a estrada amarela, ou subia a ravina e alcançava a estradinha estreita e íngreme? “Sei não”, - cismava.

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Arquivo 9 – Os perseguidos

  

De repente, Sett  tomou um grande susto. Muitos seres, homens, mulheres, crianças, jovens, anciões, todos eles vinham em grande velocidade, correndo com todas as suas forças até atravessarem a pinguela. Quando conseguiam passar e chegavam perto de onde ele estava, lhe diziam aliviados coisas como: ”Ai, graças a Deus consegui”, ou “Nossa, pensei que não conseguiria, agora estou salvo”, ou ainda “Credo, quase fui pego”... Coisas assim. Sett  tentou abordá-los, mas então fugiam em disparada, dizendo: “Sai do meu pé,Satanás” ou coisas parecidas.

Por sorte, uma velhinha, ao chegar perto de Sett, após atravessar correndo a ponte improvisada, parou resfolegando, apoiando-se nele e assentou-se do seu lado. Arfava de cansaço. Ele não perdeu tempo, fez perguntas com voz bem suave, para não assustá-la:

__O que aconteceu? Porque todos estão correndo tanto? – À sua frente muitos continuavam a chegar correndo, em polvorosa, mas demonstrando alívio por ter atravessado para este lado.

A idosa, após respirar forte muitas vezes, começou a conversar com ele em frases meio interrompidas pelo cansaço:

__É o fim! É o fim, meu irmão!

__Como assim?

Ela continuou,

__Quem atravessou, atravessou, quem não atravessou não atravessa mais, acabou o tempo!

Ele ainda fez a ela outras perguntas, mas a velhinha ficou em silêncio, reunindo forças para seguir em frente.

Quando ameaçou partir, Sett  a segurou e insistiu:

__Me responde só uma coisa: Porque diz isso?

Ela se safou e saiu andando, mas respondeu:

__É surdo, é? Não ouviu as trombetas?  - E foi-se embora.

Muitos ainda vieram correndo, aflitos, mas não paravam por nada. Sett tentou bloquear a estrada  com seu corpo, mas os que vinham o afastavam vigorosamente, apenas queriam alcançar a estradinha estreita e seguir por ela.

Sett  ficou raciocinando e sentiu que deveria correr também para a estrada estreita, acompanhar a maré, não lutar contra.  Se tantos buscam com tanto afã aquela estrada estreita e pedregosa na certeza que encontrarão abrigo e salvação, então ele deveria ter o bom sendo de fazer o mesmo. Sim, mas ficou ali pensando “vou para cá ou para lá?”

 

Então nova leva de almas veio em disparada, ainda mais velozmente que a anterior, gritando, “É o fim, é o fim”; e passavam por Sett voando, aflitos, pálidos, em pânico.

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Arquivo final - Livre Arbítrio

 

 A multidão de aflitos não parava de passar sobre a ponte improvisada, vindo da estrada larga em direção à estradinha estreita, e Sett já estava bastante aborrecido, temia que o tronco se partisse, tantos eram os que vinham sem cessar.

Finalmente veio o último, um velho, assim como ele.

 

Sett cercou-o e perguntou:

__Porque não devo voltar para a estrada amarela?

 

O indagado parou, respirou fundo,  pensou um pouco e retrucou:

__Eu não saberia resumir a resposta e ficaria aqui muito tempo para lhe responder, tantas são as razões para se fugir da estrada larga e buscar a estreita... – Ato contínuo, afastou Sett de seu caminho e avançou em direção à rampa da ravina.

 

Não se dando por vencido, Sett questionou-o em voz alta,

__Diga apenas uma razão, apenas uma!

O velho, voltando-se respondeu:

__Muitos buscam a estrada estreita e não lhes é concedido encontrar, por não merecerem tal graça... –

 

E foi-se embora.

Sett  ficou irado, “que raio de resposta”,- pensou – “faço uma pergunta e me respondem com dúvidas”...

 

Resolveu atravessar o abismo, custasse o que custasse. Foi em frente, colocou um pé sobre o tronco caído, equilibrou-se e pôs o outro, tornou a se equilibrar.  Veio-lhe uma forte vertigem e quase cai do tronco. Respirou fundo, aprumou-se e começou a andar, um passo, mais um, ops, mais outro... Olhou para baixo, viu tudo rodando, abriu os braços procurando algo para se segurar, nada encontrou, caiu, ouviu um baque e as trevas se apossaram dele.

 

 FIM

 

(Mt 7:13 Entrai pela porta estreita; porque larga é a porta, e espaçoso o caminho que conduz à perdição, e muitos são os que entram por ela)

(Mt 7:14 e porque estreita é a porta, e apertado o caminho que conduz à vida, e poucos são os que a encontram.)

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Concluindo

Meditem nestes ensinamentos, são águas purificadoras que descem diretamente do trono da graça de nosso Senhor e Redentor Jesus Cristo, nosso eterno mestre e Salvador.

Mateus 5:17 - Não cuideis que vim destruir a lei ou os profetas: não vim abrogar, mas cumprir.


Olhai, Vigiai e Orai. Jesus breve vem.

Missionário Virtual Geraldo de Deus          2022novembro, 30

Adore ao Senhor


Os que confiam no Senhor

Amém?


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